sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Aconteça

Não, não iremos muito longe. Viver é ir despovoando o mundo de seus fazeres, de sua existência, lentamente ir passando, até sermos só ocaso e memória. E, um dia, sequer sermos memória, desnecessários que seremos para qualquer aparição ou acontecimento.

A vida é anonimato e perecimento, por isso, cabe , apenas, existirmos feito homens- mas, plenamente, feito homens- no limitado tempo que as três moiras fiandeiras nos dão. Não nos adiemos: nem de amor, nem de afetos, ou palavras sobre o mundo, nem nos desperdicemos nas tolices vagas e medíocres dos nossos demônios. Ao contrário, cavalguemos, céleres, céleres, por suas frestas.
Não cedamos, que não temos de ser o que o mundo exige- o mundo é só uma ficção pueril- e tratemos de enfrentá-lo, firmemente, quixotes, para que não nos dome, aceire, escravize. Não somos mais que poeira de ossos, uma ou outra ação que permaneça- na maioria, nem isso- e finitude, mas tudo plenamente enquanto a que está nos livros santos não chega.
Não tente compreender em excesso, não evite abraços, não deva imposto de renda. Pratique o bem, não pela lei de retorno, pois, ela não se cumpre, mas para evitar a convivência com seu pior.
Não iremos além dos nossos filhos, dos raros amigos, assim, não armazene o amor que possa lhes dar. O tempo não irá nos esperar. Então, aconteça.

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