sábado, 29 de outubro de 2022

 


*Incitação à escrita*

Como (con) vencer a inércia

 Invado suas privacidades,

desde logo me escuso,

quero apenas prosear,

não pretendo ser intruso.

 

Escrever é ato que,

além de certo tempo,

demanda algum intento.

 

Amigas e amigos,

com diversos verbos,

um ou outro advérbio,

poucos possessivos,

outros tantos adjetivos,

arquitetam-se textos substantivos.

 

Textos que, ao colidir com nosso palato mental,

deletam as mesmices do dia a dia ‘normal’.

 

Comensal de pratos muitos,

nego ser gourmet formado,

tenho paladar treinado.

Assim, posso dar testemunho.

 

Verdade, sem tempo para as lavras,

mesmo tendo-se palha a contento,

não se tecerá um cesto de palavras.

 

Mas, não se requer um cesto.

Basta um cento.

 

Refugiem-se, evadam-se.

Digam: vou ali e volto já!

Façam como eu, quando

com vontade de me manifestar,

fujo das atribulações impostas pelo cacoete do viver ocupado,

dou-me a debulhar grãos de espigas da imaginação.

Grãos de milho, se assim os imaginem.

 

Todavia, é compreensivo,

se suas fadas-madrinhas não curtirem crenças telúricas,

nos frutos da terra que nos acolherá,

abandone-se, mulher ou homem,

ao embalo dos celestiais acordes

do mítico ímã que, do alto, nos (a) trai.

 

Em vez de espigas do milharal,

um rosário.

Relicário,

gestualmente desfiado.

 

(Concentr)ação que, fugindo à vezeira regra,

não estará contextualizada à apelação das aflições humanas.

 

Refiro-me, isso sim,

à vernácula e laboriosa manifestação de ideias.

Palavras concatenadas.

Algumas vezes, nem tanto.

 

Caneta em punho,

Risquem, rabisquem, desafiem-se!

Assim como o universo é pleno de espaços vazios,

não temam os vazios de inspirações.

Vazios sem sombras, sem sons, sem sóis, só frios.

Talvez, assombrações.

 

E mais.

Não pensem que o ora narrado,

de forma instantânea, haja brotado.

Não foi coisa momentânea

nem geração espontânea.

 

Insistam. Intentem.

Apropriem-se da luz que nos deslumbra

quando abrimos (com) portas da imaginação.

As chaves estão com vocês.

 

Em tal ocasião,

em desmedida avalanche,

tudo se vai de roldão,

revolve em linhas e entrelinhas,

nossas (des) crenças.

 

Em luzir tal me inspiro.

Em estar tal me estiro.

De meu quintal, os (ad) miro.

Etecetera e tal.

 

   De peito aberto, garanto.

Do amigo distante, nem tanto.

 

Hugo Bittencourt

[email protected]

http://livrodoscharutos.blogspot.com

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