quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O grande campeão olímpico que eu não sou

             

Tivesse eu nascido em outro país, talvez hoje eu fosse um festejado campeão olímpico. Infelizmente eu nasci no Brasil. E o que é pior, numa época em que os campeões olímpicos brasileiros se faziam por si mesmos. Não havia clubes, empresas, nem incentivos para a prática esportiva com vistas a formar atletas olímpicos, com tudo se resumindo ao futebol. Tivemos medalhistas olímpicos sim, Valdemar Ferreira no atletismo, Maria Ester Bueno no Tenis, Eder Jofre no boxe, entre outros. Mas, todos se formaram por si mesmos. Já nasceram com os dons, investiram em si mesmos e tiveram um êxito que ninguém acreditava. Nascido numa cidade do interior da Bahia, com muitos problemas de saúde e poucos recursos financeiros, minhas chances de me desenvolver no esporte olímpico eram nulas, como realmente foram.

Potencial eu tinha. Eu era um exímio atirador, especialista em carabina de pressão. Atirava por prazer e o custo da munição era baratíssimo, mas eu fazia coisas que as pessoas acreditavam impossíveis. Uma delas era retirar um marimbondo de uma lâmpada sem quebrá-la. E assim eu fui seguindo. Atirando em alvos, insetos e, infelizmente, passarinhos. Quando me dei conta dessa triste realidade, do crime que praticava, já tinha feito muitos estragos na fauna. Não havia na cidade sequer clubes de tiros esportivos. Havia em Salvador, mas tudo lá era muito caro, totalmente fora do meu alcance. E hoje, que estou incapacitado para exercer até mesmo um simples tiro ao alvo, lamento que o esporte olímpico ainda seja tão insipiente, não só em Feira de Santana, como em todo o estado da Bahia.

Antigamente tínhamos olímpiadas estudantis, que envolvia não apenas estudantes secundaristas, mas também universitários e tudo isso se acabou. O único esporte que ainda permanece é o futebol profissional e amador, mas não há investimentos em desenvolvimento em futebol olímpico. Isso só acontece nos estados do Sul e Sudeste. No Norte e Nordeste essa realidade ainda está muito distante. Eu gostaria de ver um dia já na escola primária alunos treinando fundamentos de esportes olímpicos.  Porém, já é considerado uma vitória quando se consegue uma quadra de poliesportiva com futebol, vôlei, basquete e handebol. Ainda assim os professores são despreparados, não conseguem formar boas equipes e não há campeonatos de qualidade.

Pior que tudo isso é que não se ver nenhum governante tomando qualquer iniciativa que seja para incentivar a formação de atletas. Não há nenhum investimento, nenhuma cobrança no desempenho ou qualquer atitude para melhorar o quadro. O descolamento do Brasil com o esporte olímpico é tão grande que mesmo no futebol, que temos nada menos que cinco títulos mundiais, só recentemente conseguiu conquistar dois títulos no futebol masculino olímpico.

Ainda temos que correr muito nessa maratona!

  NE: Caros leitores, Cristóvam Aguiar está retornando com as crônicas inéditas às quartas-feiras a partir de hoje. Embora ainda esteja impossibilitado de escrever devido ao problema de visão, sua criatividade está sendo colocada no papel através de minhas mãos. (Maura Sérgia)

Um comentário:

Anônimo disse...

Promissor retorno! Almejo seja duradouro. Quem tem o que dizer, sempre da um jeito de passar adiante suas ideias e exemplar talento.