Sempre Livre

 

* Um passarinho me contou *

         Quando menino, em idos anos esquecidos no fundo do século vinte, a milhares de quilômetros de onde me encontro agora, um passarinho que atendia por Tarzan, vaticinou que um dia – Ah! Um dia! – para a Bahia eu iria. 

Assustado, ao ver o passarinho falar, corri às saias da velha avó. 

- “Menino, que cara é essa de assustado, viu assombração?”

- “Tarzan ‘tá falando, vó!”

- “Deixe de bestagem, menino. Passarinho não fala!”

- “Fala, sim! Eu ouvi!”

- “E o que ele falou?”

- “Falou que quando eu for velho como a senhora, lá na Bahia, vou conhecer uma tal de Jane!”

- “Jane?!? Tu sabes que ela é a companheira do Tarzan de verdade?”

- “Sabia, não! Vó.”

- “Pois é, esquece isso! Se ele falou, ‘tá falado. Te aquietes, pois, deves ter sonhado de olho aberto!”

- “E pode, vó?”

- “Claro que pode, ainda mais tu que ‘tá sempre de lápis na mão, rabiscando teus cadernos”. 

Dias voaram. Não foram poucos, algo como vinte e oito mil, passaram lépidos como um amor de verão e, olha eu, na Bahia. O sonho acordado, com Tarzan já estava morto e sepultado. Coisas de menino. 

Agora, precisamente neste 14 de fevereiro do ano 2022 da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, ‘creindeuspai’, não é que meus caminhos cruzam com Jane? Não a do Tarzan, que também deve estar, como o sonho, desfeita em pó, e sim uma outra, escritora, gente finíssima, que, dia 15, estará aniversariando. 

Eu, como não sou baú para guardar segredos, houve por bem revelar-lhes o sonho infantil e o natalício em causa. Assim, nossa congregação literária amanhã irá felicitá-la e ela, se prepare. Por que? 

Outro passarinho me contou que, doravante, os membros da confraria de escritores cá de minha cidade de São Gonçalo dos Campos, quando aniversariantes, serão os que, na realidade, darão presente aos companheiros e companheiras. 

Como assim? Em qualquer dia do mês de seu nascimento, deverão produzir texto, em prosa ou verso, para ofertar aos demais. O tema é livre, sendo importante, apenas, estar associado ao natalício aniversário, real ou ficticiamente. 

Parabéns, Jane! Mãos à obra! Aguardamos, portanto, tuas inspiradas e sempre benvindas linhas, inaugurando-se, assim, nova fórmula participativa grupal.               

Depois, ficam dizendo que passarinhos não falam ...

Hugo Bittencourt

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