sábado, 22 de outubro de 2022

 


* Carta enigmática *

 Quando garoto, anos 40 e 50 do século passado, entre muitas outras, três revistas em quadrinhos atraiam minha atenção: “Vida Infantil” em um primeiro momento e, a seguir, “Guri” e “Vida Juvenil”. 

Não irei falar de “Vovô Felício” personagem da primeira delas, tão pouco de “Hopalong Cassidy” nem de “Tom Mix”, dois dos muitos cowboys daqueles tempos em revistas de quadrinhos, menos ainda do “Tocha Humana”, de “O Fantasma” ou de “Namor – O Príncipe Submarino”, heróis que infestavam a revista “Guri”. 

Restrinjo-me à última página das edições da “Vida Juvenil” com suas Cartas Enigmáticas. Ansioso, aguardava as ditas e ao decodificá-las curtia a emoção de um larápio ao descobrir o segredo de um cofre. 

Assim, charadas passaram a fazer parte de minha vida. Mais ainda, pela sedução do eterno enigma da esfinge: decifra-me ou devoro-te. Por isso eu, que jamais gostaria de virar pasto de um ser de pedra – tendo alcançado a enigmática mensagem – aprendi os necessários cuidados ao tergiversar. 

Será o enigma um bem-me-quer, malmequer? 

Especiais requebros fazem-se necessários quando, dando tratos à bola, fazendo cabriola, atamos atuais posts mundanos a fatos havidos há anos. 

Tanto requer, também, vida pregressa vivida sem pressa, bem-me-quer, malmequer, farejando de quase tudo um pouco, com a natural curiosidade pelo desconhecido, associada ao temor de tornar-se convencido.               

Em repente inesperado, silêncios por todo lado, transformei-me em ser alado. Assim, aventurado, copiei e colei o que me foi dado no Tempostal de meu viver arrevesado.  

Desvendo o enigma. 

Janeiro de 1980.

Sinatra se apresenta no Rio de Janeiro.

Maracanã borbulhando, 150 mil pessoas. 

Entrementes, na companhia de Benjamin Menendez, um dos fundadores da fábrica de charutos são-gonçalense, nascido ao mesmo dia/mês que eu, sendo cinco anos mais velho, estávamos em Nova York a serviço da empresa. 

“Vamos ao cinema?”  Indagou Benjamin. 

Lá fomos assistir película, cujo enorme cartaz anunciava: "Deep Throat", filme que rolava em sucesso há certo tempo. 

Por qual razão consigo precisar a data da estada em Tio Sam? Fácil entender. Estávamos ao cinema justamente quando Sinatra se apresentava no Brasil. Ele, enquanto (en) cantava, nós assistíamos "Garganta profunda". 

É aquilo que falei ao início, bem-me-quer, malmequer, sem precisar qual - tanto é impossível -, se assistir Sinatra ao calor do Rio ou Deep Throat em NY, curtindo enorme frio; tanto relembrar acode-me um arrepio.

 

A magia de Sinatra nos deixou,

Voz encantada; sempre lembrada.

A garganta profunda perdurou,

Em meu cérebro gravada.

 Bem-me-quer, malmequer. 

A voz-tenor do homem?

A garganta-soprano da mulher? 

Tenor ou soprano?

Cuidado com o engano! 

Assim, enigmaticamente, por hoje, despeço-me.

 

 

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

 [email protected]

http://livrodoscharutos.blogspot.com

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