domingo, 9 de abril de 2023

 


Há, no viver, poesia triste.

 Dela não nos apercebemos, apressados,

quando em preocupações mergulhados,

não damos atenção à encovada mão do irmão,

implorando ajuda, em nossa direção.

 Pressa maior ainda quando,

em urgência distraída,

nossos olhos cegos ficam.

O irmão e sua mão estendida,

tornam-se invisíveis,

nos descaminhos da vida.

 Poesia maior, alegre ou triste,

a depender - se passante ou se pedinte - existe

se a mão que dá, der à mão que insiste.

 Quais os caminhos para um mundo justo e fraterno?

Será, por toda vida, implorar ao Padre Eterno?

 Assis, o Francisco, santo que não foi Papa,

assegurou sermos todos irmãos.

Passados tantos séculos,

a mundial aspiração segue sendo

fraternidade, a amizade social.

Outro Francisco, o Papa,

nos mundanos dias inundados por um mal universal,

ponderou: ninguém se salva sozinho

e - encantamento indiscutível -

há que sonhar com humanidade una e fraterna,

por sermos fratelli tutti.

 Tais palavras ressoaram em terrível escuridão.

A escuridão dos que pensam só em si. Vidas pequenas.

Qual farol dará luz à esperança de se alcançarem vidas plenas?

 As sombras de um mundo fechado.

 Há barreiras por todo lado.

Ainda reinam em corações e mentes,

sombras de um mundo fechado.

 Democracia,

Liberdade,

Justiça.

Conceitos destorcidos, manipulados.

 Egoísmo,

Desinteresse pelo Bem Comum,

preceitos por quase todos bem aceitos.

 Consumismo exacerbado,

Lucro acima do bem social.

Comportamento “normal”.

Falta de trabalho.

Legiões de pais e mães aflitos

sem dar de comer aos filhos.

O racismo,

em suas variadas nuances.

Incrustrado no agir da humanidade.

 A pobreza, mãe da fome, inimiga da paz,

poda o futuro dos que dela padecem.

  Desigualdade de direitos, mundo afora.

Escravatura, Tráfico de pessoas,

Mulheres subjugadas, Tráfico de órgãos...

 Sombras de um mundo em auto reclusão,

fermentadas pelo medo e pela solidão.

Necessidade de o mundo encarar

a cultura de muros que encobre máfias e milícias.

Um estranho no caminho.

 Algum luminoso exemplo se alcança?

Um estranho no caminho,

para nos guiar nesse desfiladeiro de incompreensões,

umbral de desencantos e desesperança?

 Tal estranho em nós habita.

Passo inicial reconhecer vivermos numa sociedade doente,

que desvia a atenção às dores do próximo,

analfabeta no cuidar dos mais frágeis, vulneráveis e desamparados.

 A responsabilidade em erigir soluções

para incluir, integrar e levantar os que sofrem

é de cada um em particular

e de todos, em conjunto.

 Somos feitos para o amor.

A exortação papal nos diz que o amor é a saída

para reconhecer-se Cristo em cada pessoa excluída.

Na que esmola à beira da estrada-vida.

Na que nos pede um prato de comida.

 Pensar e gerar um mundo aberto.

 O próximo não precisa estar ao alcance de nossas mãos,

de nossos olhos,

nem falar nossa língua.

A capacidade de amar requer dimensão universal.

O amor sem fronteiras constrói pontes,

e há que pensar e gerar um mundo aberto.

 Cada qual tem que aprender a sair de si mesmo,

para encontrar nos outros um acrescentamento de ser.

O dinamismo da caridade conduzirá à comunhão universal.

A estatura espiritual da vida humana é medida pelo amor.

Amor em alcançar o melhor para a vida do outro.

 As famílias, na sua missão educativa primária e imprescindível,

devem cultivar o sentido da solidariedade e da fraternidade.

 Direitos, como o amor, também não têm fronteiras.

A ninguém pode ser negado viver com dignidade.

É preciso pensar numa ética das relações internacionais.

 Cada país e seus bens territoriais não são exclusivos dos nativos;

não podem ser negados aos estrangeiros.

O direito natural à propriedade privada passa a ser secundário,

ante o princípio do destino universal dos bens criados.

  Um coração aberto ao mundo inteiro.

 A defesa do acolhimento e da proteção das vidas dilaceradas,

em fuga das guerras, perseguições, catástrofes naturais, traficantes sem escrúpulos.

de suas comunidades arrancadas.

 Impõe-se uma legislação global para as migrações,

projetos de longo prazo

além das emergências individuais,

em nome do desenvolvimento solidário das nações.

 A política melhor.

 A caridade a serviço do bem comum.

Caridade que, reconhece a importância do povo,

e o tem disponível ao confronto e ao diálogo.

 A melhor política protege o trabalho,

uma dimensão indispensável da vida social.

A verdadeira estratégia contra a pobreza

não visa só atender os necessitados,

mas promove-los na perspectiva da solidariedade.

 Além disso, é tarefa política encontrar solução

para o que atente contra os direitos fundamentais,

eliminar o tráfico de seres humanos,

vergonha da humanidade,

e combater a fome, situação criminosa

uma vez ser a alimentação, direito inalienável.

 A política centrada na dignidade humana

não deve se subordinar a interesses financeiros.

O mercado por si só, não resolve tudo.

Os estragos, causados pela especulação financeira, mostram-no.

 Movimentos populares são torrentes de energia moral.

Envolve-los na sociedade permitirá motivos nobres alçar.

Da política para os pobres,

se migrar

à política com os pobres

e dos pobres.

 Outra aspiração anota que a ONU

deve consolidar o conceito de família de nações,

trabalhando para o bem comum,

na proteção dos direitos humanos

e promovendo a força da lei sobre a lei da força.

 Diálogo e amizade social.

 Arte do encontro que é a vida,

se nos impõe uma irmandade mundial,

libertação da urgência distraída.

 O milagre da amabilidade,

estrela a nos iluminar

nos libertará da crueldade

de nos outros não pensar.

 Ninguém é inútil.

Ninguém é descartável.

Toda dissenção é fútil.

Toda aceitação é amorável.

  Percursos de um novo encontro.

 Sempre em construção.

A paz é uma arte;

cada qual faz sua parte.

 Perdoar não é olvidar os horrores

Soah, Nagasaki, Hiroshima

e outros tantos pavores

que feriram nossa autoestima.

 Para o mal, a justiça e o perdão,

há que a todos amar sem exceção.

Ao mantermos, na memória, o mal,

devemos com o bem, o mesmo fazer também.

 É preciso recordá-los,

para não nos anestesiarmos.

A chama da consciência coletiva

assim, será mantida viva.

 Quanto às guerras nunca mais.

O desarmamento global

é imperativo humanitário e moral.

Com o dinheiro em armas gasto

liquidaremos a fome mundial.

 Pena de morte deve, também, ser abolida

Há que se respeitar a sacralidade da vida.

 

Religiões a serviço da fraternidade no mundo.

 O terrorismo não é fruto da religião.

Dos textos sacros, é má interpretação,

bem como de políticas de fome, injustiça e opressão.

 O caminho da paz é possível entre os credos existentes,

para tanto, a liberdade religiosa deve haver:

direito fundamental de todos os crentes.

 A Igreja não descuida sua missão.

Embora não viva a política como tal,

por sermos fratelli tutti,

não renuncia à dimensão política da vida,

à atenção ao bem comum,

à preocupação com o desenvolvimento humano integral

segundo os princípios evangélicos.

 



 

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