sábado, 1 de abril de 2023

 


* Palha, fumo & seda *

      Os mais velhos por certo, ainda lembram dos cigarros de palha, também conhecidos por ‘palheiros’, assim chamados nas bandas gaúchas onde me fiz gente. Da mesma forma, também devem ter conhecido cigarros feitos à mão, combinando fumo e papel seda. Falo dos anos 50 do século passado Eram formas de fumar que exigiam paciência e habilidade. 

Meu pai fumava ‘palheiros’, palha de milho envolvendo fumos desfiados, comprados em pacotes de alguns gramas. Destes fumos, havia vários tipos e marcas. Lembro-me da palha ser comercializada em pequenos maços, com coisa ao redor de 30 unidades. 

Como eu, hoje, apalpo meus charutos à procura do melhor, mas ao final acabo fumando todos, da mesma forma, meu pai percorria as palhas à cata daquela que  afigurasse a mais delicada. Não satisfeito, premia a palha escolhida com um canivete, apoiando-a e escorregando-a de encontro ao polegar esquerdo, para mais alisá-la e amaciá-la.

Meu avô, fumava cigarros feitos à mão. Com auxílio de uma lâmina desfiava o fumo em corda, esfregava o tabaco recortado entre as mãos quase o esfarelando, envolvendo-o a seguir com papel de seda. Recordo dos maços deste papel. Acho que continham 50 folhas. A marca era Colomy, impressa em vermelho sobre um fundo na cor amarela.

 Depois de quase feito o cigarro, antes de concluir o envoltório, delicadamente, levava à boca a última parte do papel, umedecendo-o com a língua, para concluir a operação de fechamento. Feito isto, apalpava-o uniformizando seu diâmetro. 

Um e outro, dosavam a quantidade de fumo, de acordo com suas preferências momentâneas. Um e outro de tais fumares eram ‘apagões’. Com extrema facilidade apagavam, exigindo quantidade apreciável de fósforos para reacendê-los. 

Meu pai e meu avô, nunca foram patrulhados por suas respectivas preferências. O primeiro, nos anos 60, trocou os ‘palheiros’ pelos cigarros tradicionais. O segundo, desistiu de fumar quando andava pela casa dos quarenta e poucos anos. 

Tudo sumiu. É verdade - por incrível possa parecer - ainda há ‘palheiros’, produzidos nas Minas Gerais, prontos para o consumo. Nada a ver com os do passado. 

Tudo sumiu, é exagero. O papel seda continua firme e forte. Quem duvidar indague às tabacarias e casas especializadas. Nunca vendeu-se tanto papel seda, quanto agora. 

Para quê? Para os ‘baseados’ de maconha.

  

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos

Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel,

vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

[email protected]

http://livrodoscharutos.blogspot.com

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