segunda-feira, 3 de abril de 2023

Crônica de segunda

Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer * ou (a peleja dos vereadores com o povo)

 Os nossos vereadores, perderam de vez a vergonha

Tão metendo a mão no cofre, sem a menor cerimônia

A Câmara (diziam eles) é a Casa da Cidadania

Mas agora o que se vê, é uma total anarquia

 

Imagine, meu patrão, que por meia horinha de trampo

Embolsaram seiscentinhos, e ainda querem outro tanto

-“A gente trabalha muito”! - Lamentam os nobres edis

Por certo, o assalariado, é quem vive mais feliz

 Trabalha oito horas no dia, por 180 ao mês

Vereador, tu tá é gozando, com a cara do freguês

Por três dias na semana, e sem nada pra fazer

Embolsa três e seiscentos, na hora de receber

 

E o décimo terceiro do pobre, que o patrão não quer pagar?

-“Aqui não assino carteira! Vai pegar ou vai largar?”-

E o pobre preocupado, porque tem que trabalhar

fica vendo vereador, o décimo quarto embolsar

 

Décimo quarto sim sinhô, é só se saber contar

Seis sessões a seiscentinhos, veja só quanto vai dar

São três mil e seiscentos, seu moço, o salário de um mês

E três e seiscentos são, a conta de seis vezes seis

 

Muito laboriosos os nobres, ficam lá a fazer leis

Não são cumpridas, é verdade mas, no fim, seis vezes seis

Tem lei pra todo gosto, pra rir ou pra chorar

Mas é certo, no fim das contas, a gente é quem vai pagar

 

Um daqueles galhofeiros, sem ter mais o que fazer

Inventou uma tal de lei, que essa eu vou te dizer...

Quer o nobre edil, em cada árvore colocar

O seu nome científico, e também o popular

 

Mais útil que essa lei, cumprida como se vê

É uma que os “chopis centis”, vão ter que fazer valer

Agora o aleijado, que sair para comprar

Pode ir sem cadeira de rodas, pois o “chopis” tem que dar

 

Zé perneta, meu vizinho, que gosta de aprontar

Vai às compras sem cadeira e ainda quer gozar:

- “Porque vou gastar a minha, se o “chopis” tem pra dar?” -

Larga a cadeira em casa, e vai pro “chopis” esmerilhar

 

Um daqueles vereadores, esperto que é danado

Pongou num tal “quoficiente”, e se elegeu deputado

Aí foi sopa no mel, sem satisfação a dar

Meteu projeto na Câmara, pra com estudante arrasar

 

Acontece que na ânsia, de satisfazer o Sincol

Só faltou revogar as leis, do jogo de “fitibó”

Compenetrado que só, do alto da “deputancia”

Revogou até o projeto, que criou a Lei Orgânica

 

O sabido sabia sim, o que podia acontecer

Mas ele tinha quatro anos, pro povo se esquecer

E na próxima eleição, sem a menor cerimônia

Ele irá apresentar, sua cara sem vergonha

 

E assim os edis vão levando, a vida na galhardia

E quando a gente reclama, dizem que é anarquia

Mas não existe nada melhor, que dia sim, dia não

Quando menos se espera, chega o ano da eleição

 

É aí que a imprensa, maltratada como está

Vai dar o troco aos edis, que vivem a esculhambar

Na hora de dar o voto, ela muda a história

Essas mazelas ela lembra, a este povo sem memória.


* No ano de 2002 a Câmara Municipal convocou sessões extraordinárias, pagando R$ 3.600 Reais, a cada vereador, no final do período, o que equivaleria a um décimo quarto salário.

NE: Publicado no livro A Leva da Égua e Outras Estória (2004)

 

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