segunda-feira, 20 de junho de 2011

A fala

A fala é sempre uma responsabilidade sublime mantida a expensas de quem fala. Sempre provoca profundas ressonâncias no ambiente psíquico daquele que fala e por parte daquele que ouve. O primeiro pela responsabilidade quanto ao conjunto de sua produção, e o segundo pela possibilidade de efetuar uma rigorosa seleção, o que na maioria das vezes não faz assim. Os interlocutores passam a assumir perante o tempo inúmeras e grandiosas responsabilidades no campo da linguagem, uma vez que tanto o material falado quanto o ouvido em geral fica arquivado indefinidamente no inconsciente profundo, dando azo a modulações diversas na acústica da alma. Por isso, a fala sempre produz vincos profundos no campo da consciência indo parar muitas vezes, nas regiões soturnas dos arquivos mentais, podendo emergir em épocas diversas e indeterminadas, podendo ser intensamente reclamada por um sem-número de lembranças posteriores.

O pior é que muitas vezes a fala sempre retorna de forma inoportuna, fixando-se nos quadros doloridos das repetições sistemáticas, a estabelecer um combustível farto para profundas movimentações com respeito às alienações mentais. Assim, a fala quando ‘des-fala’, vem sendo catalogada, na visão moderna, dentro da área da psiquiatria, como ‘transtornos psicóticos’ todos de etiologia intrincada e tratamento complicado, dada a severidade das lesões quando chegam a provocar nas engrenagens da alma de cada indivíduo.

Por sua forma intricada de ser os tombados do cadafalso da fala como devaneio estão sempre a reclamar, da parte de seus lidadores, por uma dose muito grande de paciência, dedicação e perseverança. Entendemos, à luz da Doutrina Espírita, que na realidade jamais existiram doenças, pois o Criador é perfeito, e sim doentes vivendo em amplo processo de remissão, a reclamarem muita observação, acompanhamento, medicação e hidroterapia e a magnetoterapia em abundância.

Assim é a fala. A fala que fala, a fala que produz, a fala que imita, a fala que re-fala que dês-fala, e a fala que não fala, são todas falas intensamente responsáveis vistas no contexto da construção do futuro, e por meio delas podemos dar vários encaminhamentos às verdades, manter verdades sempre verdadeiras, verdades dúbias, verdades mal-intencionadas e mesmo verdades mentirosas, verdades ilusórias, verdades fantasiosas. Mas, esteja em que campo estiver, a fala é sempre uma responsabilidade pessoal e intransferível daquele que fala.

A nossa fala tem a força dos intensos arremessos, viaja como as ondas de longo alcance e produz impactos incalculáveis no ouvido de quem ouve, provocando respostas inimagináveis no campo das responsabilidades dos que falam, vibrando sobre todas as coisas e todas as circunstancias. Pela fala podemos construir momentos de intensa leveza e planejar um futuro de felicidade verdadeira, mas também pela fala podemos tecer momentos de dor, de suplícios inenarráveis e de muitas lutas insanas, arrastando vidas ao cadafalso das dores e projetando-as em queda intermináveis.

Quando falamos, e em pleno ato da fala, o pensamento verbalizado já não nos pertence mais, ele foi, viajou. A partir daí, a fala se introjeta no ouvido de quem ouve, passando a pertencer-lhe, e a partir desse instante não há mais como dês-falar, desmanchar a fala, dissolvê-la. Podemos re-falar, pedir desculpas, mas ainda assim não podemos nos esquecer de que a fala é anexa ao seu psiquismo, conforme suas condições pessoais de absorção e entendimento. Ora, por isso mesmo o ato da fala se torna ainda mais responsável, devendo ser mais reflexivo e exigindo muito cuidado em sua autorização.

É necessário que haja, preliminarmente, uma responsabilidade mais intensa em relação ao que vai ser dito e um imenso respeito para com os ouvidos que nos ouvem; e sempre que pairara alguma dúvida, torna-se preferível optarmos pela fala do silêncio.

Lembremo-nos de que a fala muda muitos caminhos, altera destinos, pode tanto criar um universo de grandes oportunidades como um abismo de destruições. A fala tem o poder de construir a vitoria do homem sobre si mesmo, mas é também por ela que podemos construir grandes arrastamentos que nos levarão aos campos doridos das derrotas soturnas, dos pessimismos das tramas impiedosas, das infelicidades das inverdades, das ilusões, das fantasias, lembrando que todo o campo mental a ser construído pela fala produzirá efeitos por tempos a fio, e aquilo que vier a causar dificuldades certamente reclamará recomposição através do tempo.


Assim, em qualquer circunstancia em que a vida nos autorize a oportunidade da fala, tenhamos extremada cautela, pois é mil vezes preferível nascermos mudos ou no silencio da necessária reflexão a mergulharmos no lodaçal dos comprometimentos da expressão. Assim, no que se refere ao exercício da palavra, tenhamos sempre a certeza de que daquilo que for semeado hoje, os campos de nossa vida produzirão a mãos-cheias amanhã expressando-se em flores e frutos no futuro, e sem dúvida será dessa produção que fatalmente colheremos e forçosamente seremos constrangidos a nos alimentar no futuro.

A palavra semeada hoje se converte sempre em responsabilidades futuras pertinentes aos terrenos da Lei de Causa e Efeito. A ação e reação determinará, no curso do tempo, nossa colheita, que, sem dúvida, será pessoal e intransferível.

N. E - Desconheço autor, mas concordo com tudo que está escrito.

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