terça-feira, 28 de junho de 2011

Os “profissionais”


Hoje em dia fala-se muito em profissionalização das festas ditas populares. O Carnaval, por exemplo, já foi profissionalizado. Não existe mais aquela coisa de amadores fantasiados a torto e direito, exercitando a criatividade com alegria e prazer, participando de uma festa que era de todos. Não! Hoje os profissionais cuidam da alegria dos foliões, ditando o que eles devem usar, cantar e dançar. Inclusive, quanto tem que pagar por isso. Claro! Os profissionais precisam ser pagos pelo seu trabalho.
A Micareta de Feira de Santana, nascida do anseio de pessoas alegres e festeiras, que saiam às ruas fantasiadas, cantando, tocando e dançando, apenas pelo prazer de fazer alegria, hoje está devidamente profissionalizada. As pessoas pagam uma fortuna por um pedaço de pano a guisa de fantasia, e são confinadas em um cordão que depois passa por um corredor dito da alegria, mas que está mais para corredor do inferno. Os ladrões rondam pelas ruas adjacentes aguardando os incautos foliões que, na sua maioria deixam o sítio da festa embriagados e são presas fáceis, pois a Polícia está lá, no corredor, apartando brigas de bêbados, e não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Até mesmo a festa de Parintins, realizada pela população cabocla e pelos índios, numa alegre disputa entre os bois Caprichoso e Garantido, também já está profissionalizada. Seus organizadores, inclusive, hoje são disputados por escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo.

Agora que o Sul Maravilha descobriu que o Nordeste existe, fala-se em profissionalizar as festas juninas, palco das nossas mais genuínas manifestações culturais. Eu tremo só de pensar no que as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro vão se transformar. Aliás, já se transformaram. Estão totalmente descaracterizadas em nome do Deus Dinheiro. Mas, fazer o que? Tem quem goste.

Eu não. Passei o São João no meio do mato. Num povoado onde as tradições ainda são respeitadas. Não que sejam matutos ignorantes. Longe disso. São pessoas cultas e organizadas que, inclusive, formaram uma associação de agricultores que fabrica diversos produtos como tempero, beijus, biscoitos, doces feitos com a produção de suas propriedades, e que já tem registro do Ministério da Agricultura e da Saúde, estando aptos a comercializarem seus produtos em qualquer parte do Brasil.
Todos eles têm casas próprias, com eletrodomésticos, móveis, telefone celular, antenas parabólicas e até computador com internet. Mas apesar de todo conforto que o progresso oferece, não abrem mão de suas raízes culturais, seus usos e costumes. Anualmente realizam um Encontro da Cultura, como meio de preservação e demonstração dos seus antigos valores. 
Sob um céu estrelado aqueci-me junto às fogueiras, me diverti com as quadrilhas, fogos, comidas e bebidas típicas sem condimentos artificiais, forró pé de serra, compartilhando minha alegria com uma gente simples e de bom coração, que com alegria, espontaneidade e amadorismo, faz uma festa muito animada e gostosa.

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