segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Como entender (e diminuir) o impacto dos seus hábitos no meio ambiente, de roupas a comida



 
Com que frequência você lava suas calças jeans? Quando viaja de avião, são viagens longas? Prefere comprar tomates embalados, avulsos ou em conserva? Quantas vezes por semana você come carne?
As perguntas soam, a princípio, muito específicas. Mas são essenciais para entender o rastro que seus hábitos de consumo e escolhas individuais deixam no planeta.
Foi em uma conversa com o marido, no sofá de casa, que a designer industrial e escritora holandesa Babette Porcelijn percebeu que, apesar de ser especialista na cadeia produtiva de produtos industrializados, não entendia exatamente qual era o impacto do seu estilo de vida no planeta.

"Ele me contou que os 16 maiores navios porta-contêineres do mundo juntos emitem a mesma quantidade de enxofre que todos os carros que circulam no mundo! E que perdemos cerca de 27 milhões de árvores por dia por causa do desmatamento", disse à BBC Brasil.
"Isso mudou minha maneira de ver nosso impacto ambiental, porque eu achava que estávamos fazendo um ótimo trabalho, pelo menos aqui na Holanda".
Ao pesquisar sobre o tema, Porcelijn percebeu que pelo menos em países ricos como Holanda e Estados Unidos mais de um quarto da "pegada ecológica" de cada ser humano é perceptível no dia a dia. O resto está embutido no ciclo de vida de produtos e serviços - da extração de matérias-primas, passando pelo transporte, até o descarte.
Conseguimos refletir, por exemplo, sobre a energia elétrica gasta para carregar nossos celulares, laptops e outros aparelhos eletrônicos. Mas falamos pouco sobre as consequências da mineração dos metais necessários para produzi-los ou a quantidade de água utilizada nesse processo.
Mas a principal revelação da pesquisa, conta Porcelijn, é que "o maior impacto ambiental não é causado exatamente pelos carros que dirigimos ou pelo ar-condicionado das casas e, sim, por produtos que consumimos - livros, eletrônicos, roupas, alimentos". Pelo menos na Holanda e nos Estados Unidos.
O resultado do estudo foi compilado no livro Hidden Impact ("Impacto oculto", em tradução livre), no qual a autora também dá dicas de como reduzir, de forma prática, o impacto provocado pelas escolhas cotidianas. E sem que seja preciso, necessariamente, mudar radicalmente de hábitos da noite para o dia.
Desde então, a holandesa se dedica em tempo integral a projetos de consultoria e análises de impacto ambiental. Ela esteve em São Paulo para participar do evento What Design Can Do ("O que o design pode fazer", em tradução livre).

Como calcular?
O que Porcelijn considera como impacto é composto de elementos como uso da água e da terra, desmatamento, mineração e processamento de matérias-primas, esgotamento de recursos naturais, perda de biodiversidade, emissões de gases de efeito estufa, lixo e uso de combustíveis fósseis.
"O que eu quero fazer é monitorar todo o sistema e incluir todo tipo de impacto. Não só no clima, mas também na natureza, na biodiversidade, todo tipo de poluição", explica.
"Eu não conseguia encontrar esses dados em lugar nenhum, o que achei muito esquisito. É esse o tipo de coisa que queremos e precisamos saber. Eu tive que ir muito fundo na pesquisa e contratei empresas especializadas para me ajudar." Para calcular o impacto da carne, por exemplo, é preciso levar em conta a produção de alimento para o gado e o desmatamento causado para criar o pasto.Para saber o real impacto de um carro, é necessário incluir a poluição causada pela mineração dos metais utilizados.
 No caso de uma calça jeans, deve-se considerar a água utilizada na produção de algodão e também na lavagem do tecido. A tarefa parece impossível e, de fato, a escritora holandesa reconhece que ainda há muito a ser calculado.
"Quando eu procurei especialistas, eles me disseram que nenhum método científico atual inclui todos os tipos de impacto. Mas como podemos superar o maior desafio dos nossos tempos se não conseguimos investigá-lo de verdade?", questiona.
"Resolvi seguir em frente assim mesmo."
Por isso, ela explica, os cálculos utilizados em seu método são aproximados.
Para efeito de comparação, a designer fez os mesmos cálculos para a Holanda e para os Estados Unidos, quando conseguiu obter as informações.
"É meio chocante, porque lá tudo é o dobro", diz. Ela conta que está, no momento, procurando empresas que a ajudem a fazer as mesmas estimativas para o Brasil.
A pedido da BBC Brasil, ela adaptou alguns gráficos produzidos durante a sua pesquisa e converteu os dados para as unidades de medida brasileiras. Click aqui e leia matéria completa no BBCBrasil.

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