sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

No país do faz de conta

 Esta semana o jornalista Alex Ferraz escreveu um artigo intitulado “Alice no Tribunal das Maravilhas”, onde relatava os descalabros da Justiça na Bahia. Segundo ele, e eu concordo, a lentidão da Justiça brasileira é proposital, quando adota atitudes privilegiando grandes grupos, e mantendo pilhas de processos paralisados. A quem interessa afinal, o caos judicial? Alguém aí já parou para pensar nisto?

Mas vejam só. Ainda segundo Alex Ferraz, um dos gabinetes do Supremo Tribunal Federal (que tem milhares de processos parados, aguardando encaminhamento) recebeu em 2010, “pela excelência dos serviços prestados” o certificado ISO 9001. E ainda dizem que este certificado é uma das coisas sérias deste país. O STF também publicou um relatório onde, entre outros assuntos, tenta justificar as viagens dos seus ministros ao exterior, para buscar “trocas de opiniões diplomáticas”.

As viagens parecem não surtir efeito, pois quando do assassinato da juíza Patrícia Acioli, nenhum ministro do STF, muito menos o seu presidente, foi ao velório ou ao enterro. Sequer foi feita uma declaração formal em nome da instituição.

Saindo do campo do Judiciário, Alex Ferraz faz comparação com o poder Executivo, informando que o ministro das Cidades, Mário Negromonte, juntamente com o prefeito de Salvador, João Henrique Barradas, e talvez alguma comitiva a mais, pretende viajar ao exterior para ver o funcionamento de metrôs, a fim de trazer conhecimentos para aplicar ao metrô de Salvador. Não precisariam ir tão longe, gastar tanto. Bastaria ir a São Paulo, pois lá veriam um metrô de primeiro mundo.

Voltando ao Judiciário, Ferraz lembra que o presidente do STF, Cezar Peluso, tem se dedicado à defesa do abusivo aumento salarial para o Judiciário Federal. Considerando ético e moral coagir o Executivo a aumentar as despesas em R$ 8,3 bilhões. Conforme o relatório da própria instituição, “o orçamento total do STF foi de R$ 518 milhões, dos quais R$ 315 milhões somente para o pagamento de salários”.

            E eu fico me dizendo: Quanto dinheiro mal gasto. O legislativo preocupado com as reeleições dos seus membros, esquecido do seu papel de guardião das leis que ele mesmo edita. O Executivo envolto escândalos de roubos e corrupção. O Judiciário, submisso ao Executivo, entregue ao caos enquanto seus membros lutam para manter seus privilégios e seus salários nababescos.

            E nós, como patetas, assistindo a tudo isso placidamente e fazendo de conta que nada disso nos atinge. Nem mesmo a guerra civil não declarada em que vivemos, onde os nossos jovens filhos morrem como moscas na guerra do tráfico de drogas, e os nossos idosos nas portas dos hospitais.

Nenhum comentário: