sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um toque ao contrário de Midas


Durante a minha juventude conheci muitos jovens como eu, politizados, idealistas, prontos a lutar e se sacrificar pelos seus direitos e contra qualquer tido de corrupção, roubalheira e autoritarismo. A maioria formou-se em nível superior, tornaram-se bons cidadãos, e outros entraram para a política. Entre estes últimos, alguns militaram por algum tempo e depois desistiram, sentindo-se impotentes para lutar contra a corrupção que grassava no meio. Os demais foram cooptados por ela.

Ao contrário do lendário Rei Midas, que transformava em ouro tudo o que tocava, a política apodrece tudo o que toca. Não por acaso o jornalista e humorista Millôr Fernandes declarou certa vez que, quando abandonou a política, sentiu-se como “um navio abandonando os ratos”. Eu que, ao meu modo, participei da luta contra a ditadura militar e apoiei políticos de esquerda, sei muito bem como ele se sentiu naquele momento.

Muitos dos políticos de esquerda que apoiei eram meus amigos, gente da minha faixa etária. Eu os conheci combativos e idealistas. Mas a política, com o passar do tempo os mudou. E quando eu percebi isso, a ditadura militar já tinha caído e um novo cenário político começava a se formar no País. Busquei um lugar entre os que iriam governar, queria participar com idéias e trabalho da reconstrução democrática. Fui solenemente ignorado e rejeitado. Quando comecei a trabalhar, profissionalmente, como assessor de comunicação de alguns políticos de direita, os meus antigos companheiros me chamaram de “vira casaca”.

Mas eu os via cooptados pela corrupção. Quem era o vira casaca ali? Certamente não era eu, que continuei e continuo fiel aos meus princípios de respeito, honestidade, ética e moral. Mesmo isso tendo me custado caro, porque sempre fiquei à margem das decisões. O jornalismo, quando muito, me dava a oportunidade de acompanhar de perto os acontecimentos e ver mais de perto quem era quem e o que faziam acontecer. A decepção era crescente a cada dia. Dizia meu pai: “Os de verdade estão virando peba”.

Quando o PT tomou o poder no Brasil, eu senti um fio de esperança, porque o discurso era violento contra a corrupção e a roubalheira. Mas, vejam, hoje a TV mostra um vídeo criado há nove anos para a campanha do PT, onde os petistas afirmavam que “ou o Brasil acabava com a corrupção, ou a corrupção acabaria com o Brasil”. Este vídeo, com muitos ratos roendo a bandeira brasileira, tem sido mostrado na propaganda da oposição. E nenhum petista ousou até o momento contestar.

Agora vejo um deputado, fervoroso defensor da democracia, portar-se como um tirano de aldeia, ameaçando cortar verbas publicitárias dos veículos de comunicação que não rezam pela cartilha do PT. Pior ainda, vejo um amigo e respeitável político, segurar a bandeira do sectarismo político para atacar, com mentiras, o adversário do seu atual patrão. Como eu disse. A política apodrece tudo o que toca.

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