sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Centenário de Gonzagão: De pai pra filho desde 1888



         Ontem, dia 13 de dezembro, o Norte e Nordeste do Brasil comemoraram o centenário de nascimento de Luiz (Lua) Gonzaga, Gonzagão, o “Rei do Baião”. Muitas foram as manifestações que, inclusive, começaram já no ano passado, com especiais de TV, shows e festas, inclusive em outras partes do Brasil e até no exterior.
         Aqui em Feira de Santana, onde ele tem título de cidadão, a UEFS realizou o “VI Tributo a Luiz Gonzaga”, ocorrido ontem, no CUCA, com entrada franca. Tudo ainda é pouco para homenagear e reconhecer a contribuição de Gonzagão para a Música Popular Brasileira. Aliás, reconhecimento que ele também sempre teve pelos seus fãs e deixou gravado em versos: “... eu agradeço, ao povo brasileiro/Norte, Centro/o Sul inteiro/ onde reinou o Baião...”
         Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, uma sexta-feira, numa casa de barro batido na Fazenda Caiçara, povoado do Araripe à 12 km de Exu (extremo oeste do Estado de Pernambuco), segundo filho de Ana Batista de Jesus (Mãe Santana) e oitavo de Januário José dos Santos. Ele deveria ter o mesmo nome do pai, mas na madrugada em que nasceu, seu pai foi para o terreiro da casa e viu uma estrela cadente e mudou de ideia, era o dia de São Luís Gonzaga no mês que se comemora o Natal, o que explica o sobrenome “Nascimento”.
Seu Januário nunca saiu da Fazenda Caiçara. Foi pela influência dele que Luiz Gonzaga se interessou pela música e pela sanfona. E foi o velho Januário, também, que lhe deu os primeiros ensinamentos. Januário era trabalhador rural, mas animava bailes tocando seu famoso fole de oito baixos, e era também consertador de sanfona de oito baixos. Januário era admirado na região do Araripe por ser exímio sanfoneiro. Homem de poucas palavras, dedicou a vida à família. Teve nove filhos, todos nascidos e criados na Fazenda Caiçara. Ele faleceu em 1978, aos 90 anos.
O respeito a admiração de Luiz Gonzaga pelo pai esta registrado para a história na canção que ele compôs com Humberto Teixeira, “Respeita Januário”, sobre seu reencontro com seu pai. O lugar do seu nascimento era no sopé da Serra do Araripe, e inspiraria uma de suas primeiras composições denominada “Pé de Serra”. “Lá no meu pé de serra/deixei ficar meu coração/ai que saudades tenho/eu vou voltar pro meu sertão...” Ao ser rejeitado pelo pai de uma moça a qual queria namorar, confrontou o fazendeiro armado de uma faca. Ao saber disso, a mãe, dona Santana, deu-lhe uma surra. Ele tinha então 17 anos, e ficou tão envergonhado que fugiu de casa e se alistou no Exercito, onde serviu por 10 anos. Era corneteiro.

A carreira
Em 1939 passou a se dedicar à música. Começou tocando nos prostíbulos do Rio de Janeiro. No início da carreira, apenas solava no acordeão choros, sambas, foxtrotes e outros gêneros da época. Seu repertório era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em programas de calouros. Apresentava-se com o típico figurino do músico profissional: paletó e gravata. Até que, em 1941, no programa de Ary Barroso, ele foi aplaudido executando “Vira e Mexe” , um tema de sabor regional, de sua autoria. O sucesso lhe valeu um contrato com a gravadora Victor, pela qual lançou mais de 50 músicas instrumentais.
Foi a primeira música que gravou em disco. Veio depois a sua primeira contratação, pela Rádio Nacional. Foi lá que tomou contato com o acordeonista gaúcho Pedro Raimundo, que usava os trajes típicos da sua região. Foi do contato com este artista que surgiu a idéia de Luiz Gonzaga apresentar-se vestido de vaqueiro - figurino que o consagrou como artista.
Em 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor, “A Dança Mariquinha”.
Também em 1945, uma cantora de coro chamada Odaléia Guedes dos Santos deu à luz um menino, no Rio. Luiz Gonzaga mantinha um caso há meses com a moça - iniciado quando ela já estava grávida - Luiz, sabendo que sua amante ia ser mãe solteira, assumiu a paternidade da criança, adotando-o e dando-lhe seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior. Odaléia faleceu deixando Gonzaguinha com apenas dois anos, entregue aos padrinhos.
Em 1948, Gonzaga casou-se com sua noiva, a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular, por quem ele se apaixonou. O casal viveu junto até o fim da vida de Luiz. Eles não tiveram filhos biológicos, por Helena não poder engravidar, mas adotaram uma menina, a quem batizaram de Rosa.

Uma relação turbulenta
Luiz não se dava bem com o filho, Gonzaguinha. Ele passou a não ver mais o filho na infância do menino e sempre que o via brigava com ele, apesar de amá-lo, achava que ele não teria um bom futuro, imaginando que ele se tornaria um malandro ao crescer, já que o menino era envolvido com amizades ruins no morro, além de viver com malandros tocando viola pelos becos da favela. Dina, a madrinha, tentava unir pai e filho, mas Helena não gostava da proximidade deles, e passou a espalhar para todos que Luiz era estéril e não era o pai de Luizinho, mas Luiz sempre desmentia, já que ele não queria que ninguém soubesse que o menino era seu filho somente no papel. Ele amava o menino de fato, independente de ser filho de sangue ou não.
Aos 16, Luiz pegou-o para criar e o levou a força para a Ilha do Governador, onde morava, mas por ser muito autoritário e a esposa destratar o garoto, o que gerava brigas entre Luiz e Helena, Gonzaga mandou o filho Gonzaguinha de volta ao internato.
Ao crescer, a relação ficou mais tumultuada, pois o filho se tornou um malandro, tornando-se viciado em bebidas alcoólicas. Ao passar do tempo, tudo foi melhorando quando Gonzaguinha resolveu se tratar e concluiu a universidade, e se tornou músico como o pai. Pai e filho ficaram mais unidos quando em 1979 viajaram o Brasil juntos, quando o filho compôs algumas músicas para o pai. Eles se tornaram muito amigos, e conseguiram enfim viver em paz.

Morte e legado
         Autêntico representante da cultura nordestina, Gonzagão manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no Sudeste do Brasil.  O gênero musical que o consagrou foi o baião. A canção emblemática de sua carreira foi Asa Branca, que compôs em 1947, em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira. Ao longo da vida recebeu diversos apelidos: Rei do Baião, Majestade do Baião, Embaixador Sonoro do Sertão, Velho Lua, Bico de Aço, Lula, Pernambuco, Gonzagão.
Luiz Gonzaga era Maçon, iniciado na Loja Paranapuan, Ilha do Governador, em 03 de abril de 1971, e é o compositor, juntamente com Orlando Silveira, da música “Acácia Amarela”, uma homenagem à Maçonaria.  De 1946 a 1955, foi o artista que mais vendeu discos no Brasil, somando quase 200 gravados. “Ele desenhava as próprias roupas e inventava os passos que fazia no palco com os músicos”, revela o cineasta Breno Silveira, diretor de “Gonzaga - De pai para filho”. Foi também o primeiro cantor e músico a fazer uma turnê pelo Brasil. Antes dele, os artistas não saíam do eixo Rio/São Paulo. Gonzagão gostava mesmo era de viajar, fazer shows e tocar para platéias do interior.
Luiz Gonzaga sofria de osteoporose havia alguns anos. Morreu vítima de parada cardiorrespiratória, na capital pernambucana.  Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte (a contragosto de Gonzaguinha, que pediu que o corpo fosse levado o mais rápido possível para Exu, irritando várias pessoas que iriam ao velório e tornando Gonzaguinha “persona non grata” em Juazeiro do Norte) e posteriormente sepultado em seu município natal.
O filme de Breno Silveira Gonzaga, De Pai Pra Filho, narrando a relação conturbada de Luiz Gonzaga com o filho Gonzaguinha, nas primeiras três semanas de exibição já alcançara a marca de 1 milhão de espectadores.
“... Quando o verde dos teus olhos/se espalhar na plantação/eu te asseguro, não chores não viu/que eu votarei, viu, meu coração...” (Asa Branca). Luiz Gonzaga faleceu em 02 de agosto de 1989 , aos 76 anos.

Nenhum comentário: