sexta-feira, 13 de junho de 2014

Porque não me ufano do meu país



         Um amigo me disse certa feita que a única vez que ouviu seu pai cantarolar uma música foi na época de festejos juninos. Havia chovido bastante, o capim estava alto e verde, o gado estava gordo e as safras de milho e feijão eram promissoras. As hortaliças também estavam viçosas. Assim sendo, com fartura e riqueza o velho tinha todos os motivos para ser feliz e comemorar.
         É assim que deve ser. Festejamos a vida quando ela nos sorrir. Nos momentos de dificuldade não devemos ficar tristes, mas, trabalhar para resolver os problemas e sorrir no futuro. Por isso, não aceito essa comemoração efusiva por conta da Copa do Mundo. Temos sérios problemas para resolver. A hora é de muito trabalho e não de festa.
         Eu tenho festejado sim, a minha vida particular. Não posso me queixar. Mas, quando olho ao redor e vejo meus semelhantes morrendo nas portas dos hospitais, jovens drogados sendo mortos por traficantes, diante de uma justiça inoperante e do sistema educacional público falido, não posso ficar alegre e festejar.
         O Brasil, para mim, é como uma grande família. Explico: Quando a porta do mundo se abre para um jovem, ele parte em busca de descobertas e aventuras. Se ele deixa para trás um lar e uma família estruturada, ele parte com a certeza de que se tudo der errado, ele terá um porto seguro onde   o aguarda pai, mãe, irmãos, tios, primos e alguns bons amigos, que com certeza irão socorre-lo.
         Assim é o país. Quando alguém deixa sua casa e vai trabalhar, só o fará tranquilo se tiver a certeza de que no comando do País estão pessoas confiáveis e respeitadas. Como partir tranquilo para trabalhar ou para se divertir se não tem a certeza de que tudo irá funcionar a contento. Haverá transporte, segurança, educação para os filhos e abastecimento acessível dos gêneros de primeira necessidade.
         Mas, não é o que acontece hoje em dia. Tudo o que se tem no Brasil é de má qualidade, ou simplesmente não se tem. Onde estão as boas escolas e bons professores? Os médicos para atender as nossas emergências, onde estão? Por que não temos transporte de qualidade? Por que os bandidos não estão presos? Por que os salários são tão ruins? Temos a maior reserva de água potável do mundo, mas, por que falta água nas nossas torneiras. Por que vivemos à sombra de um apagão elétrico? E por aí vai.
         Não! Não temos nada para comemorar. Não posso compactuar com este festejo geral e este ufanismo barato de pessoas que simplesmente não percebem ou não querem perceber a gravidade da nossa situação. Estamos vivendo como os jovens que se drogam para entrar num mundo de fantasia e esquecer, por alguns momentos, a dor da realidade das suas vidas sem perspectivas de futuro promissor.
         Vou assistir aos jogos. Mas, apenas porque gosto de futebol. Mesmo sabendo que hoje em dia é um jogo de cartas marcadas. Aqui ou ali, talvez assista a algum jogo interessante. E pouco me importa se a seleção nacional será ou não campeã do torneio. Porque eu prefiro o Brasil campeão em outras áreas onde só tem perdido de goleada para os outros países.

Nenhum comentário: