terça-feira, 2 de setembro de 2014

Cursos técnicos pagos pelo governo têm evasão de até 60%



Faculdades privadas provedoras de cursos técnicos do Programa Nacional de Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) - uma das vitrines da campanha da presidente Dilma Rousseff – e do qual o PSDB cobra paternidade (o programa seria uma "cópia" de programas da área de educação profissionalizante implementados primeiro em Minas Gerais e, em seguida, em São Paulo), estão tendo de lidar com taxas de evasão que podem chegar a 50% ou 60%, segundo seus coordenadores.

O governo diz que o programa é uma plataforma para qualificar trabalhadores e impulsionar a produtividade no Brasil. Dilma costuma ressaltar em seus discursos de campanha que o Pronatec já teria atingido 8 milhões de matrículas - mas não contabiliza as desistências. "O problema da evasão é um dos nossos maiores desafios: hoje, nossa taxa é de quase 60% e estamos implementando uma série de medidas para tentar reduzir isso", disse Júlio Araújo, que coordena os cursos do programa na Faculdade Sumaré.

O Pronatec existe desde 2011, mas as faculdades privadas só passaram a ser habilitadas para oferecer seus cursos no final do ano passado. Na Sumaré, chegaram a ser matriculados em cursos de Técnico em Informática e Programação de Jogos Digitais quase 7.500 alunos desde o final do ano passado. Mas, desses, apenas 3 mil continuam frequentando as aulas. "E temos falado com outras instituições de ensino superior que têm reportado problemas semelhantes", diz Araújo.

De fato. Paulo de Tarso, diretor de pós-graduação e cursos técnicos da Kroton Educacional - maior companhia de ensino de capital aberto do país, que chegou a inscrever 58 mil alunos Pronatec em faculdades como a Anhanguera, a Pitágoras, a Universidade de Cuiabá e a Uniban - diz que seu grupo tem lidado com índices de evasão que variam de 45% a 60% nos cursos do programa. E na Faculdade dos Guararapes, em Pernambuco, de cada 100 inscritos, 27 não terminam o curso segundo Fernando Tranquilino, diretor para o Pronatec.

O governo paga para as faculdades particulares (além de outras instituições públicas e privadas) oferecerem cursos do Pronatec valores que costumam variar de R$ 5 a R$ 8 a hora/aula por estudante. Em um curso de 1.000 horas, isso significa um custo total por aluno que pode chegar a R$ 8 mil. Como os repasses são condicionados a frequência dos estudantes, no caso de uma desistência, também são suspensos. Mas o governo não tem como recuperar o dinheiro já investido.



Dados oficiais

Oficialmente, o índice de abandono dos cursos Pronatec é de 12,8% segundo o Ministério da Educação (MEC). A taxa é muito mais baixa que a reportada pelas faculdades, mas já indica que, do total de 8 milhões inscritos oficialmente – número exaltado por Dilma - quase 1 milhão não devem concluir o curso. Além disso, cerca de 25% das inscrições do Pronatec foram feitas nos últimos seis meses. Esses são alunos que de imediato podem ser contabilizados como "matriculados", embora também não se saiba quantos chegarão a concluir seus cursos.

"Não sei como o governo está chegando nesse índice oficial de 12% de evasão, mas ele nos parece totalmente irreal", disse um coordenador de uma faculdade privada, sob condição de anonimato. "A nossa realidade é diferente. Às vezes, de cada 100 que se inscrevem só 70 aparecem para o primeiro dia de aula."

Segundo as faculdades privadas, a evasão de alunos do Pronatec teria cinco possíveis causas. Alguns deixariam os cursos por dificuldade em acompanhar seus conteúdos. Uma segunda causa da evasão seria a dificuldade dos alunos em conciliar o curso com o trabalho. "Contraditoriamente, muitos alunos que acham emprego – o grande objetivo de nossos cursos - acabam tendo de abandonar as aulas", conta Araújo. A falta de comprometimento também pode ser um problema, segundo Priscila Sperling, coordenadora do Pronatec da Anhanguera Educacional.


Também haveria estudantes com dificuldades para pagar pelo transporte para frequentar os cursos. Por fim, os provedores do Pronatec acreditam que as desistências podem estar ligadas a pouca informação que alguns alunos têm sobre os cursos na hora de se fazer a inscrição.  (com informações da BBC)

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