Quando mercados começaram a trocar as sacolinhas plásticas
descartáveis por opções feitas de materiais que se degradam no meio
ambiente, muitos comemoraram. Foi uma resposta que se espalhou rápido
por diversos países para tentar conter um problema grave: cerca de 100
bilhões de sacolas de plástico eram produzidas por ano em 2013, segundo
relatório da Comissão Europeia.
Mas um novo estudo mostra que, por mais benéficas que
pareçam, as substitutas que se dizem ecológicas não são, de fato,
sustentáveis. Pesquisadores da Universidade de Plymouth, no Reino Unido,
submeteram os tipos mais comuns de saquinhos biodegradáveis,
encontrados por lá em qualquer esquina, a testes rigorosos de
resistência. E a conclusão foi preocupante — elas resistem mais do que
deveriam. Mantiveram-se íntegras mesmo após um período de três anos
expostas a condições que simulam as da natureza.
Esse tempo é mais que o suficiente para asfixiar tartarugas ou encher
de plástico a barriga de baleias. “Eu fiquei realmente impressionada
que, depois de três anos, as sacolas ainda pudessem aguentar um monte de
compras, principalmente por serem biodegradáveis”, diz Imogen Napper,
principal autora do estudo. “Quando se vê algo rotulado desse jeito,
automaticamente se presume que a degradação será mais rápida do que as
versões convencionais, mas não é o que mostra nossa pesquisa.”
Cinco sacos diferentes foram avaliados: dois tipos de sacolas
oxobiodegradáveis, uma biodegradável, uma compostável e uma
convencional, de plástico polietileno. Plásticos oxobiodegradáveis são
pensados para se fragmentar mais rápido, só que eles viram
microplásticos, também ruins para o meio ambiente; já as sacolas
compostáveis são criadas para serem as mais rápidas a se degradar.
O experimento consistiu em averiguar como cada categoria de
bioplástico se comportava quando “descartada” ao ar livre, enterrada no
solo ou submersa na água do oceano. Além da perda da área de superfície e
da desintegração ao longo do tempo, os pesquisadores britânicos também
avaliaram resistência, textura e estrutura química. Só ao ar livre as
sacolas tiveram um fim satisfatório, fragmentando-se em apenas nove
meses.
Já na terra e na água, o resultado foi péssimo. Oxobiodegradáveis,
biodegradáveis e as sacolinhas convencionais permaneceram inteiras
depois de passarem três anos enterradas e submersas. De tão intactas,
ainda aguentavam compras de supermercado. Só as compostáveis se
salvaram: desapareceram do ambiente aquático em três meses e se
quebraram um pouco na terra, onde ainda assim os fragmentos perduraram
por 27 meses.
A pesquisa chama a atenção para algumas questões bem pertinentes.
Para começar, a própria definição de biodegradável: é um rótulo muito
genérico quando não vem acompanhado de informações sobre como e quando
aquela sacola vai deixar de existir. “Nós demonstramos aqui que os
materiais testados não apresentam nenhuma vantagem consistente,
confiável e relevante no contexto do lixo marinho”, afirma Richard
Thompson, segundo autor do artigo publicado no periódico Environmental Science and Technology.
Ou seja, não adianta cobrar alguns centavos pela sacolinha de
plástico para desestimular seu uso, como o Reino Unido e até o Brasil
têm feito. É preciso oferecer também opções verdadeiramente sustentáveis
ao consumidor, para que ele possa comprar com a consciência limpa se,
por algum motivo, estiver sem sua sacola reutilizável. Mais que de boas
intenções, o planeta precisa de soluções inovadoras — e, principalmente,
urgentes. (Super Interessante)
Nenhum comentário:
Postar um comentário