sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Do paraíso ao inferno

    Vi uma matéria na TV na qual era mostrado um verdadeiro paraíso natural na zona rural de uma cidade do Sul onde vive uma grande colônia de descendentes de italianos. O Local é simplesmente lindo e calmo. Algumas famílias alugam quartos para visitantes, quando não as transformam em pousadas muito aconchegantes.

    De repente me assomou um súbito pensamento de que a partir de então aquele paraíso poderá ser invadido por hordas de turistas predadores que, aos poucos, transformarão aquele paraíso num inferno. “Já vi esse filme”, disse para mim mesmo, lembrando de um tempo em que eu colocava uma mochila nas costas e saia por aí a descobrir paraísos para o meu descanso e lazer.
    Lembrei de quando eu e Maura éramos jovens e ela me acompanhava nas minhas aventuras. Foi quando descobrimos Cabuçu, uma pequena vila de pescadores pacatos e amistosos. Não havia energia elétrica e poucos veículos circulavam pelo local. Se não tínhamos uma barraca para dormir, sempre podíamos improvisar um abrigo com varas e folhas de coqueiros. Isso quando algum pescador não nos convidava para dormir na sua própria casa.

    Hoje os nativos não são nada amistosos, a bandidagem tomou conta do lugar, o lixo tomou conta das praias que ainda recebem um grande volume de dejetos das casas, bares e restaurantes. Isso sem se falar no barulho provocado pelo som dos carros particulares. Farofeiro lá é o mínimo problema.
  
Lembrei também da fazenda de um amigo meu, onde eu ia passar finais de semana ou férias.
Próximo havia (e ainda há) um povoado onde eu podia me abastecer de víveres e bebidas, além de prosear com os nativos e jogar um gostoso dominó. Quando não dormia na casa da fazenda, armava meu circo na trincheira de uma grande represa que há num dos pastos da fazenda. Fazia um fogo, armava meu abrigo, uma rede, à noite acendia um lampião, e pescava no lago.

    Vendo o fogo, meus amigos nativos vinham me encontrar, porque sabiam que lá encontrariam boa prosa, boa pinga e peixe frito, assado ou de moqueca para comer. Varava as noites e dias sozinho, sem medo de nada, feliz e em paz comigo e com Deus. Hoje em dia não vou mais lá. Porque se alguém vir o fogo, vai saber que estou lá, e irá me encontrar, para me roubar ou até matar.

    Pois é. É nisso que se transformam os paraísos quando muita gente compartilha dele. Adão e Eva que o digam. Sei que em alguns países tais locais permanecem inalterados, porque lá existem rígidas leis de preservação ambiental, que são rigidamente cumpridas e valem para qualquer cidadão, seja filho de pescador ou importante desembargador.
    Mas, infelizmente, estamos no Brasil. Uma pena.

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