quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Presépio ou Lapinha?

 Saiba a diferença entre essas tradições natalinas seculares

 Segundo o folclorista Câmara Cascudo, Lapinha seria a denominação do Pastoril que se apresentava diante dos presépios, ou seja, o grupo de pastoras que faziam as suas louvações na noite de Natal, cantando e dançando diante do Presépio, divididas por dois cordões ,o azul e o encarnado, as cores votivas de Nossa Senhora e de Nosso Senhor. Em outras palavras, tratava-se de uma ação teatral de tema sacro.

O Presépio é a representação do nascimento de Jesus. Figura central do cenário, o menino santo aparece dentro de uma “manjedoura” (cocho para alimento de animais), dentro de uma gruta (lapa), ladeado pelos pais, José e Maria, os três reis magos, alguns pastores e animais.

 O desvirtuamento da lapinha acentuou-se em 1801, quando o bispo de Olinda protestou contra as pastorinhas, pela alta percentagem de mundanidade que escurecera a transparência inocente dos doces autos antigos. Na Idade Média, afirmava-se que Jesus havia nascido em uma lapa (gruta ou caverna), a morada dos primeiros homens. Por essa razão, foram criadas as lapinhas.

Estas se modificaram, segundo Câmara Cascudo, perderam a religiosidade de outrora, assimilaram costumes africanos e indígenas, tornando-se um auto profano, passando a incluir danças modernas e cantos estranhos ao auto. Hoje, ressalta o folclorista, os termos lapinha e presépio são considerados como sinônimos.

Tradição
    Mas a tradição da montagem de simples Presépios ou Lapinhas perdura até os dias de hoje, principalmente nos rincões mais longínquos do Nordeste, seja nas igrejas, em praças públicas ou em residências. Os símbolos centrais permanecem inalterados, mas muitos novos elementos foram introduzidos, muitas vezes sem nenhuma afinidade com o tema ou simplesmente deslocados no tempo, como carros de brinquedo ou instrumentos musicais modernos.
    
No povoado da Vaca Brava, no município de Retirolândia, localizado na região sisaleira, uma família há 72 anos mantém a tradição da Lapinha, iniciada por Judite Carneiro aos sete anos, na casa dos pais. Hoje com 72 anos, ela mantém a tradição em sua residência com ajuda do esposo José Maximiniano (80), Rita e Marivone, filhas, e Messias, genro, que durante três dias montam a Lapinha. Nos pastos e na caatinga eles juntam sisal, gravatá, ramos de jurema, flores silvestres, e todo o necessário para enfeitar a Lapinha.

Feita a base, com folhagens e serragens tiradas das “camas” dos animais de cocheira, com pedras, madeira, galhos, samambaias e tudo mais, eles vão formando a gruta onde é montado o Presépio. Uma pequena bomba d’água aciona um cascata e pequenas luzes dão o toque final. Muitos elementos são adicionados. Além da tradicional Sagrada Família, Os Reis Magos, pastores e animais, se vê também muitos elementos da vida nordestina, como um grupo ralando mandioca.
 
E ratificando as palavras de Câmara Cascudo, sobre o desvirtuamento das Lapinhas, lá está um Papai Noel, acredite se quiser, tocando num teclado eletrônico.

 

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