sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Vou falar enquanto ainda posso

    Não é a primeira vez, mas pode ser a última vez que falo sobre o amordaçamento da Imprensa por parte do governo. Aliás, na verdade, os políticos querem amordaçar toda a sociedade civil, e começando pela Imprensa, todos os demais segmentos representativos da sociedade serão facilmente amordaçados.

    A Imprensa é a tribuna dos cidadãos livres, mas que, sem voz nas decisões governamentais, manifestam suas opiniões através de cartas aos jornais ou em depoimentos nos microfones das emissoras de rádio ou diante das câmeras da TV. É bem verdade que eles perderam a vergonha, a ponto de um deles declarar em alto e bom som que estaria “se lixando para a opinião pública”,
    E sabe que ele tem razão? A opinião emitida contra esta ou aquela autoridade ou qualquer mazela governamental, precisa ser seguida de atitudes. Seja pelo voto (não votando em ladrões, corruptos, fichas sujas, e outros que tais) ou por manifestações populares, como aquelas que estão a acontecer pelo mundo, nos países onde o povo resolveu dar um basta na gatunagem e na incompetência dos políticos.

    E ninguém espere atitude por parte dos militares das forças armadas. Porque eles estão muito bem refestelados nos seus quartéis e não querem saber de governar. Porque governar dá trabalho, e também porque eles não sabem governar pelas leis civis. Só entendem de ditaduras, mão de ferro, toque de recolher e outras coisas do gênero. Eles já governaram o Brasil várias vezes e não deu certo. Melhor ficar no bem bom da caserna do que procurar encrenca.

    Quando eu digo que posso estar falando disso pela última vez é por duas razões. A primeira é que estou cansado e não quero completar mais dois anos sem que me aposente do jornalismo. Já fiz a minha parte. A outra razão, a mais grave, é que o governo está caminhando a passos largos para alcançar o que sempre tanto desejou que é calar a Imprensa.

    O primeiro passo foi dado bem aqui na Bahia, bem debaixo dos nossos narizes, quando o governo conseguiu aprovar e implantar o Conselho Estadual de Comunicação. Não passou no Congresso nem no Senado, o Conselho Federal, mas um perigoso precedente foi aberto aqui. Quando estiver funcionando, é esse tal conselho que vai ditar o que a Imprensa pode ou não dizer. Como a maioria dos órgãos de comunicação está nas mãos de políticos, isso vai ser mole.

    E você, que não gosta da Imprensa, que acha que repórter é enxerido, não venha reclamar quando abrir o jornal e só ler receitas culinárias, artigos escritos por políticos e religiosos, e a vibrante programação dos fins de semana de visita aos palácios dos três poderes, onde se distribui souvenires com o rosto risonho das autoridades.

    Você que não conhece história, fique sabendo que foi dando todo poder aos Conselhos, que Hitler dominou a Alemanha. E deu no que deu.

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