quinta-feira, 22 de maio de 2014

Alguma coisa está fora da ordem



Victor Mascarenhas - escritor e roteirista
Alguma coisa está fora da ordem no Brasil. Há uma animosidade no ar, uma tensão permanente e uma sensação de paranoia asfixiante aqui e ali. Uma opinião discordante, uma piada mal compreendida, um silêncio maior do que o esperado ou qualquer coisa que fuja do que o interlocutor (ou seria oponente?) espera e um conflito explode. Tá difícil...
O cineasta Cacá Diegues, nos idos dos anos 60/70 do século passado, cunhou uma expressão genial: “patrulhas ideológicas” que traduzia o que acontecia naquele momento histórico do país. Pois essas patrulhas estão por aí e cada dia mais fortes, violentas e virulentas tanto à direita quanto à esquerda, turvando a compreensão dos fatos e destruindo o debate político.
Elas estão por aí nas redes sociais, nas ruas, mesas de bar, manifestações, filas e linchamentos que volta e meia acontecem no país. A essas patrulhas ideológicas, somam-se as patrulhas religiosas - de fundamentalistas e antifundamentalistas religiosos - que querem criminalizar a fé dos outros ou impor sua fé aos outros; patrulhas do politicamente correto para avaliar e tentar censurar tudo que se diz, pensa, canta, filma ou escreve; patrulhas da questão racial para enxergar racismo onde ele existe e onde não existe; patrulhas da questão de gênero para ver homofobia em toda parte; e outras e outras patrulhas para todos os gostos.
Será que tem que ser assim mesmo? Será que sempre temos que agir na base do “nós contra eles”? Será que o sujeito torcer pra um time diferente do meu faz dele meu inimigo? Será que é impossível reconhecer qualidades no seu adversário ou deficiências no seu lado? Será que desse clima estranho que vivemos hoje vai sair algum debate saudável para escolher nosso novo presidente ou manter nossa atual? Que pais teremos depois de tanta acusação, violência, truculência, manipulação e fúria – talvez não da parte dos candidatos, mas certamente da parte das suas militâncias – como parece que teremos nessa campanha eleitoral? Entre os candidatos e suas campanhas oficiais há regras e leis, como numa luta de boxe, mas entre os militantes vai ser na base do vale tudo e esse é meu receio. No final das contas, alguém vai vencer e será o presidente de todos os brasileiros, inclusive dos que não votaram nele (a), e aí como é que fica?
Acho que precisamos começar uma nova campanha do desarmamento no Brasil, mas dessa vez precisamos ir além de nos desfazer apenas das armas de fogo.

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