Victor Mascarenhas - escritor e roteirista |
Alguma coisa está fora da ordem no
Brasil. Há uma animosidade no ar, uma tensão permanente e uma sensação de
paranoia asfixiante aqui e ali. Uma opinião discordante, uma piada mal
compreendida, um silêncio maior do que o esperado ou qualquer coisa que fuja do
que o interlocutor (ou seria oponente?) espera e um conflito explode. Tá
difícil...
O cineasta Cacá Diegues, nos idos dos
anos 60/70 do século passado, cunhou uma expressão genial: “patrulhas
ideológicas” que traduzia o que acontecia naquele
momento histórico do país. Pois essas patrulhas estão por aí e cada dia mais
fortes, violentas e virulentas tanto à direita quanto à esquerda, turvando a
compreensão dos fatos e destruindo o debate político.
Elas estão por
aí nas redes sociais, nas ruas, mesas de bar, manifestações, filas e
linchamentos que volta e meia acontecem no país. A essas patrulhas ideológicas,
somam-se as patrulhas religiosas - de fundamentalistas e antifundamentalistas
religiosos - que querem criminalizar a fé dos outros ou impor sua fé aos
outros; patrulhas do politicamente correto para avaliar e tentar censurar tudo
que se diz, pensa, canta, filma ou escreve; patrulhas da questão racial para
enxergar racismo onde ele existe e onde não existe; patrulhas da questão de
gênero para ver homofobia em toda parte; e outras e outras patrulhas para todos
os gostos.
Será que tem que
ser assim mesmo? Será que sempre temos que agir na base do “nós contra eles”?
Será que o sujeito torcer pra um time diferente do meu faz dele meu inimigo?
Será que é impossível reconhecer qualidades no seu adversário ou deficiências
no seu lado? Será que desse clima estranho que vivemos hoje vai sair algum
debate saudável para escolher nosso novo presidente ou manter nossa atual? Que
pais teremos depois de tanta acusação, violência, truculência, manipulação e
fúria – talvez não da parte dos candidatos, mas certamente da parte das suas
militâncias – como parece que teremos nessa campanha eleitoral? Entre os
candidatos e suas campanhas oficiais há regras e leis, como numa luta de boxe,
mas entre os militantes vai ser na base do vale tudo e esse é meu receio. No
final das contas, alguém vai vencer e será o presidente de todos os
brasileiros, inclusive dos que não votaram nele (a), e aí como é que fica?
Acho que
precisamos começar uma nova campanha do desarmamento no Brasil, mas dessa vez
precisamos ir além de nos desfazer apenas das armas de fogo.
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