O Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) divulgou neste
domingo em Copenhague, na Dinamarca, o mais recente relatório sobre
mudança climática e alertou que os danos causados por estas mudanças
poderão ser irreversíveis, mas ainda há formas de evitá-los.
O relatório foi publicado depois de uma semana de debates intensos entre cientistas e autoridades de governos de todo o mundo.
"A
influência humana no sistema climático é clara, quanto mais perturbamos
nosso clima, mais riscos temos de impactos graves, amplos e
irreversíveis", disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.
E, de acordo com Pachauri, o mundo todo será afetado por estes danos.
"Quero
destacar o fato de que a mudança climática não deixará nenhuma parte do
mundo intocada pelos impactos que estamos vendo diante de nossos olhos e
que, obviamente, terão uma relevância crescente no futuro."
O
diretor do IPCC afirmou que "agora a comunidade científica se
pronunciou" e está "passando o bastão para os políticos, para a
comunidade que toma as decisões". No entanto, Pachauri afirmou que ainda
há esperança, pois "felizmente nós temos os meios para limitar a
mudança climática e construir um futuro mais próspero e sustentável".
Segundo
o documento, o uso sem restrições de combustíveis fósseis (carvão,
petróleo, gás), deve ser suspenso até o ano de 2100 se o mundo quiser
evitar uma mudança climática perigosa.
O relatório também sugere
que o uso dos combustíveis renováveis deverá subir da atual fatia de 30%
para 80% do setor de energia até 2050.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também comentou os pontos principais do relatório.
"Primeiro:
a influência humana no sistema climático é clara e crescente. Segundo:
temos que agir rapidamente e de forma decisiva se quisermos evitar
resultados cada vez mais perturbadores. Terceiro: temos os meios para
limitar a mudança climática e construir um futuro melhor."
"Há um mito de que a ação para o clima custa muito, mas a falta de ação vai custar muito mais", disse Ban Ki-moon.
"O
relatório mostra que o mundo está muito mal preparado para os riscos
das mudanças no clima, especialmente os pobres e mais vulneráveis, que
contribuíram menos para este problema", acrescentou.
'Novo modelo'
Rajendra
Pachauri afirmou que este último relatório é a mais forte e detalhada
declaração a respeito da escala do problema da mudança climática e das
soluções para isto.
"Este relatório realmente estabelece um novo
modelo em avaliação científica. Por um lado, o relatório traz todos os
elementos do quebra-cabeça que constitui os vários aspectos da mudança
climática, desde a base científica subjacente dos impactos, adaptação e
vulnerabilidade e os tipos de opções de abrandamento que temos
disponíveis."
Pachauri destacou o fato de o relatório ter
envolvido mais de 800 autores diretamente e milhares de outros revisores
que analisaram cerca de 30 mil publicações para a elaboração do
documento.
"Não podemos queimar todos os combustíveis fósseis que
temos sem lidar com o resíduo resultante, que é o CO2, e sem despejar
isto na atmosfera. Se não conseguirmos desenvolver (um sistema de)
captura de carbono, teremos que parar de usar combustíveis fósseis se
quisermos parar a perigosa mudança climática", disse Myles Allen,
professor da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, e um dos membros
do IPCC que participou da elaboração do documento.
Para David Shukman, editor de ciência da BBC, este relatório "mostra as opções de uma forma mais direta do que nunca".
"O
IPCC tentou tornar (o relatório) mais aceitável afirmando que os
combustíveis fósseis podem continuar sendo usados se as emissões de
carbono forem capturadas e guardadas. Mas, até agora o mundo apenas tem
uma usina operante comercialmente deste tipo, no Canadá, e o progresso
no desenvolvimento da tecnologia é muito mais lento do que muitos
esperavam", disse.
Shukman afirma que a conclusão do relatório, de
que não podemos continuar queimando estes combustíveis como sempre
fizemos e que a queima destes combustíveis deve ser suspensa até o fim
do século, apresenta aos governos do mundo uma escolha difícil.
O secretário de Estado americano, John Kerry, descreveu o documento do IPCC como "mais um canário na mina de carvão".
"Aqueles
que escolhem ignorar ou questionar o que a ciência mostrou tão
claramente neste relatório, o fazem colocando em grande risco todos nós,
nossos filhos e netos", afirmou Kerry em uma declaração.
Ativistas aprovaram a linguagem clara do documento.
"O
que eles disseram é que temos que chegar à emissão zero e isto é novo",
disse Samantha Smith, do organização World Wildlife Fund.
"A segunda coisa (destacada pelo relatório) é que (a solução) é acessível, não vai incapacitar as economias", acrescentou. (BBCBrasil)
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