sexta-feira, 15 de outubro de 2010

No século XXI

No mais, o século XX, admirável mundo novo, acabou com um dos sentimentos essenciais ao ser humano – o espanto. Espanto, nunca mais. No século XX criaram-se o automóvel, o cinema, o avião, a televisão, a cura da poliomielite, a homossexualidade triunfante, o computador, o celular, o câncer no duodeno, a viagem à Lua, a aids, a internet, a cópula sem erotismo, a imprensa desintelectualizada, a fotografia do átomo numa fração 32 milhões de vezes menor do que o nanossegundo. Assim o século XX pôde rir do século XIX, que não acreditou na luz elétrica, não acreditou na mecanização em massa, não acreditou no tear (vide luditas), não acreditou que o automóvel ia substituir o cavalo nem percebeu que o cavalo era meio burro. Mas o século XXI, este já está rindo do século XX como o século dos babacas. Acreditaram em tudo. Até no nazismo, no fascismo, e no comunismo. Por medo de parecerem velhos, retrógrados ou reacionários. Tiveram medo até de entrar numa instalação de excrementos e, diante de uma pintura fecal, resumir sua crítica: "Como fede!". Mas, espanto, nunca mais. (A não ser que a tecnologia crie um chip de espanto).

Millor Fernandes

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