sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O fim dos tempos


Eu às vezes fico pensando como tudo começou. Imagino um grupo de seres, lá atrás, na alvorada da humanidade, travando a sua eterna luta pela sobrevivência. Tiveram que se organizar. Um grupo saia para caçar, outro ficava á postos para defender a tribo de algum ataque inimigo ou de alguma fera. Mulheres cuidavam dos filhos e das tarefas caseiras. Tudo muito simples e eficaz. Deveria haver também aqueles sujeitos esquisitos, que não faziam quase nada, passavam horas andando pela floresta, meditando, descobrindo coisas novas. Novas armas, novas ervas medicinais e/ou condimentares.
As tarefas, as responsabilidades, eram divididas de acordo com as habilidades de cada um. E todos tinham a consciência de que qualquer negligencia poderia ser fatal, tanto para si quanto para a coletividade. Os mais velhos, mais experientes e mais sábios, se reuniam para deliberar sobre os problemas que surgiam, e suas decisões eram acatadas, sem contestações, pela maioria.
Até meados do século passado a coisa ainda funcionava assim. Os homens saiam para trabalhar e as mulheres cuidavam dos afazeres domésticos. Mas alguém precisava estar sempre a postos para defender o território de possíveis ataques e invasões inimigas. Por isso, precisávamos das forças armadas, como até hoje em dia, aliás.
Mas foi na hora em que precisamos delegar poderes para que alguém fizesse por nós o que não tínhamos tempo para fazer que a coisa começou a degringolar. De início, me parece, tudo ia muito bem, até porque os nossos representantes no “Grande Conselho dos Cidadãos” tinham plena consciência das suas responsabilidades e que, qualquer vacilo, poderia resultar em graves consequências para si e para a coletividade das comunidades onde viviam.
Chegando aos tempos atuais eu fico a me perguntar: Onde foi que erramos? Como deixamos a situação chegar a esse ponto? No próximo domingo teremos que ir às urnas para eleger os nossos representantes nos “grandes Conselhos dos Cidadãos”. Mas, quando olho a lista de candidatos me dá vontade de chorar.
E isso acontece porque sei que, mesmo aqueles que ainda guardam algum resquício de honestidade e responsabilidade, fatalmente serão contaminados ou, no mínimo, destruídos pelos demais. Vivemos a época do salve-se quem puder, quando os interesses de poucos prevalecem sobre os interesses da grande maioria. Os membros das comunidades estão se isolando, vivendo em pequenas aldeias familiares, cercados de grades e cercas elétricas, acreditando que sozinhos se defendem melhor. É a época da individualidade, do egoísmo.

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