sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Papo de jacaré



Perdoem-me os leitores, mas, tenho que voltar ao tema ecologia. É que esta semana apareceu um jacaré numa casa próxima a uma lagoa e quase se dá uma comoção nacional. Foi uma festa. Fotos, vídeos, entrevistas, tudo mostrando como os heróicos homens do corpo de bombeiros dominaram a “besta fera” e levaram embora, presa e amarada, para depois devolvê-la às tranqüilas águas do rio Jacuípe.
Em casa eu ouvi o intrépido reporter Paulo José (PJ, para os íntimos) dando conta de que o bicharoco media 1,80 metro e pesava cerca de 200 Kg. “Um jacaré obeso”, pensava eu. Sim, porque um jacaré desse tamanho dificilmente atingiria os 100 Kg. Mais comedido, o comandante da “Operação Jacaré” declarou que ainda não tinha pesado o animal. Mais tarde, observando os vídeos, vi que se tratava de um jacaré comum, magro até (que alimento tá difícil nestes rios e lagoas poluídas), ostentando, inclusive, uma verdadeira “barriguinha de jacaré”.
E, pensando bem, era até um animal tranqüilo, de boa índole. Pois apesar da fome que devia estar sentindo, foi incapaz de comer o cachorro que lhe aporrinhou a noite toda, latindo e rosnando para ele.
Brincadeiras à parte, a ocorrência de jacarés se dá em todas as regiões quentes do Brasil, onde existam rios, lagos, riachos ou alagadiços, que é o seu habitat natural. E eles costumam andar à noite, migrando de um lugar para outro. Ninguém costuma vê-los porque eles se camuflam bem na água e não costumam ficar se exibindo por aí. A escassez de alimentos (peixes e aves), ou falta de água, faz com que se desloquem e, vez por outra costumam aparecer em zonas urbanas. Afinal, nós invadimos seu território, haja vista o grande número de casas construídas em lagoas aterradas ou locais alagadiços.
Alguém poderá dizer: Ah, Cristóvam, deixa de ser chato. Valeu pela folia, pelo inusitado do acontecimento, pela resenha nos escritórios e mesas de bar. Tudo bem. Só que eu acho que há muita coisa séria a se considerar em torno do fato de um jacaré deixar o seu habitat para se aventurar na zona urbana. Se o IBAMA, o IMA, ou até mesmo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente quiserem, pode desenvolver uma pesquisa e vai descobrir quantos jacarés existem nos nossos rios, riachos e lagoas.
Conheço gente que sempre tem um jacaré fresquinho no freezer, recém abatido, para comer com os amigos ou vender a algum dono de bar. Alguns são mortos tão pequenos que mal dá para um tira gosto. Eu aço graça quando eu ouço alguma “autoridade” no assunto dizer que está diminuindo o comércio de animais silvestres abatidos. Claro que diminuiu, assim como está diminuindo a existência deles. Não são mais encontrados tão facilmente, tal é a sanha predatória dos caçadores.
Eu só quero lembrar a essa gente que a natureza não se defende. Ela se vinga. E da fúria da mãe natureza, eu tenho medo. Mais do que de jacaré.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Buliram muito com o planeta / E o planeta como um cachorro eu vejo / Se ele já não aguenta mais as pulgas / Se livra delas num sacolejo." (SEIXAS, Raul). :P