quarta-feira, 16 de março de 2011

Duas faces, uma mesma moeda.

Durante o final de semana passado acompanhamos no cenário futebolístico brasileiro provas de fogo para dois de seus principais personagens atuais. Dois ‘camisas 10’, dos times que, certamente, possuíram no Brasil os representantes mais marcantes desta camisa. Permitam-me o anacronismo, pois começarei pelo segundo personagem: Ronaldinho Gaúcho.


Vindo em Janeiro deste ano para o Flamengo, após longa e obscura negociação, Ronaldinho Gaúcho, até o presente momento, vêm vivendo momentos apoteóticos em seu retorno ao Brasil. Festa de apresentação com estádio lotado, bandas de pagode, desfiles em escolas de samba e, até lançamento de bloco carnavalesco têm sido alguns dos eventos onde o craque vem desfilando seu carisma e simpatia, já sendo até tratado, pelos torcedores do Mengão como ‘Ronaldinho Carioca’. Porém, se observarmos com atenção, tudo que está relacionado acima se refere à sua atuação fora dos gramados, onde esperávamos que realmente brilhasse o jogador de futebol que ainda é.

No domingo (13) o meia-atacante teve então a oportunidade de, pela primeira vez com a camisa do atual time, enfrentar o Fluminense, participando assim do maior e mais tradicional clássico do futebol brasileiro. Havia a enorme expectativa, não só de torcedores do Flamengo, de que finalmente o atleta pudesse mostrar tudo àquilo que dele se espera em campo: dribles desconcertantes, passes geniais, gols antológicos.

Porém, durante a partida, nem de longe lembrara o célere e lépido passista, que dias atrás encantara a Marquês de Sapucaí, exibindo garbo e gingado típicos da mais fina confraria dos malandros. Apático, sem inspiração e, na maior parte do tempo, marcado com lealdade, mas com vigor, pelo ‘esforçado’ zagueiro Gum do Fluminense, Ronaldinho esteve, mais uma vez, anos-luz aquém do gênio que encantara o mundo com a bola nos pés, fazendo espanhóis e italianos, gregos e baianos se curvarem ante a destreza e habilidade demonstrada por muito poucos e, até mesmo, comparadas às dos ‘imortais’ Pelé, Garrincha e Maradona.

Acredito que, em todos que assistiram àquela partida, ficou o questionamento: “Será que está na hora de parar?” Eu, particularmente, acredito que não. Ele é um jovem de apenas 30 anos, com vigor físico suficiente para proporcionar-lhe mais alguns anos de futebol em alto nível. Em minha opinião, a questão que fica é: “Ele ainda quer?” Quanto a isto, tenho minhas sinceras dúvidas, pois, futebol no pé sabemos que ele tem de sobra, mas, a gana que marca a trajetória dos vencedores, suspeito que já tenha sido abandonada por ele há tempos.

Voltemos então ao sábado (12). Estádio da Vila Belmiro. Santos X Botafogo SP. Previsão de retorno aos gramados de Paulo Henrique Ganso, após quase seis meses afastado por conta de lesão no joelho. Jogo morno no primeiro tempo. Um bom drible do Neymar aqui, um lançamento do Elano ali, um contragolpe do Botafogo acolá. Mas, que importa? “Bota logo o Ganso!” Implora o torcedor santista e, ainda que inconscientemente, todos os torcedores e amantes do futebol bem jogado.

Finalmente, ao retornar do intervalo, Vossa Excelência ‘O Técnico’ resolve atender as súplicas e então o Ganso vai para o jogo. 22 segundos do segundo tempo e, enfim, ele toca pela primeira vez na bola em uma partida oficial após a cirurgia. Lançamento de 25 metros, preciso, surpreendente, Zé Eduardo na linha de fundo, cruza para trás, Gooooool de Elano. Voltar assim, hein Ganso, não poderia ser melhor, não é?

Poderia sim. Ah se poderia. Mais alguns poucos minutos e olha lá o Zé Eduardo na linha de fundo novamente. Outro cruzamento preciso. E quem antecipa ao zagueiro e, com toque sutil coloca lá dentro? Isso aí amigão. É do Ganso! Depois, foi só toque de calcanhar pra cá, caneta pra lá, e toda a elegância e refinamento que lhe são peculiares. Enfim, o ‘10’ da Vila Belmiro voltou! Como vinha do banco, voltou com o número 19 às costas, mas, também não faz muita diferença. Quem joga daquele jeito, é ‘10’ até quando joga sem camisa. Que, de agora em diante, tenha muita sorte e não mais se lesione com seriedade, para que continuemos nos encantando com o que de mais sofisticado pode existir no futebol e na vida: a simplicidade.

Dois grandes craques, duas camisas de peso e, duas faces da mesma moeda. Uma, já não exibindo mais seu auge. A outra, carregando por muitos a esperança da renovação. Renovação de talentos, de aspirações, de conquistas. Afinal é como alguém já havia dito: “o novo sempre vem”.

Por Paulo Pereira

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