terça-feira, 1 de março de 2011

Os infiltrados


Tomou conta do noticiário da semana o fato do motorista que atropelou dezenas de ciclistas que realizavam um passeio no rio grande do sul, num protesto por mais bicicletas e menos carros nas ruas da cidade. Ao ver as primeiras imagens imaginei: esse sujeito dever ser louco ou está drogado. Mais tarde, ouvindo a sua versão dos fatos, tive que repensar o assunto. Segundo ele, que dirigia um veículo onde estava acompanhado do seu filho, um menor de 15 anos, ao buzinar pedindo passagem aos ciclistas, estes o hostilizaram, xingando-o e desferindo socos e pontapés sobre o seu carro.
Sentindo-se ameaçado, na iminência de um linchamento pela turba enfurecida, não viu alternativa senão acelerar o carro para fugir ao cerco. É válido salientar que o passeio ciclístico não tinha cobertura oficial, e, por isso, não havia batedores da polícia para garantir a segurança dos participantes. Não estou julgando, justificando nem dando a razão a nenhum dos dois lados, mas apenas analisando o fato, colocando-me no lugar dos envolvidos.
O protesto deveria ser pacífico, segundo alguns organizadores disseram à imprensa. Então, porque o desrespeito, a provocação e a fúria por quem apenas pedia passagem? Há poucos dias a televisão mostrou cenas de violência cometida por parte de torcedores que voltavam de um jogo na cidade de são paulo. O grupo, ao passar por uma rua, viu uma bandeira do time rival pendurada na janela de um apartamento de um edifício. Foi o suficiente para que investissem furiosamente destruindo o portão e o hall do prédio. Seriam estes torcedores ou marginais travestidos?
Voltei ao passado e lembrei-me que em duas oportunidades me senti ameaçado e por pouco não aconteceu uma tragédia. Na primeira, voltava eu de um evento da igreja na comunidade da lagoa salgada. Já era tarde da noite e um grupo de pessoas caminhava pela estrada de terra mal iluminada. Alguns empurravam bicicletas e outro seguiam montados ou à pé. Elas formavam um cordão que tomava deliberadamente toda a largura da estrada. Aproximei o carro algumas vezes e pedi passagem, mas eles olhavam para trás, riam, me xingavam a faziam gestos obscenos. Tomado de raiva, tomei distancia, acelerei o carro e abri a buzina. Graças a deus, eles saíram da frente e eu pude passar.
Cheguei em casa ainda com o corpo tremendo e imaginando o que poderia ter acontecido caso eu tivesse atropelado alguém. Estava arrependido, mas agira daquela forma por medo e raiva. Péssimos conselheiros.
Na outra oportunidade, há cerca de 40 anos, encontrava-me a bordo de um ônibus que ia para paripiranga, no norte da bahia. No caminho, embarcaram alguns torcedores do atlético de alagoinhas. Alguns deles haviam sido hostilizados e espancados por torcedores do fluminense de feira, num jogo ocorrido havia pouco tempo, no jóia da princesa. Ao saber que eu era feirense, insinuaram descontar em mim, que não sou torcedor de nenhum dos dois e nem estava no estádio naquele dia da agressão sofrida. Não consumaram o fato porque eu estava armado e outros passageiros intervieram em minha defesa.
Estes são fatos são corriqueiros onde existe muita gente junta.Uma parte está ali pelo convívio social, pela diversão. Mas outra parte vai em busca de confusão, de encrenca. E acaba achando. No meu caso, dei sorte, pois não houve consequências sérias.Mas, em geral, isso acaba em tragédia. Não há força no mundo capaz de conter uma multidão enfurecida. E a multidão age por impulso e sem razão, sem medir consequências. Geralmente insuflada por gente ruim infiltrada, que promove a desordem por prazer ou para atender sabe lá deus a que interesses.
Nos dias atuais, vale, e muito, a sabedoria popular que diz: boa romaria faz quem em casa fica em paz.

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