quinta-feira, 22 de junho de 2017

... e viva São João!



         "...Terra molhada/ mato verde/ que riqueza/ e a asa branca à tarde canta, que beleza! / e o povo alegre/ mais alegre a natureza". Um amigo me disse certa vez que a única vez em sua vida que viu o seu pai, um velho pecuarista, cantando, foi numa época em que havia chovido bastante, o gado estava gordo e as colheitas de milho e feijão foram abundantes. Da forma que ele falou, dá até para formar uma imagem na mente do velho batendo com o cajado no chão e cantando com voz roca e sem ritmo, versos de uma musica de Luiz Gonzaga! " a fogueira está queimando, em homenagem a São João..."
         Nem antes nem depois disso ouviu o velho cantar.  Porque cantar denota um estado de espírito, em harmonia com as forças do universo. 

Alguém pode até cantar se estiver triste, mas, não será uma música alegre, e sim um lamento. Para o povo sertanejo, chuva é sinônimo de fartura e de alegria. Quando não chove a criação morre de sede, a colheita se perde e a fome bate à porta. Como então fazer festa numa hora destas?

         Contudo, o povo nordestino está acostumado a sofrer com longas estiagens e hoje já sabe que não conta com a ajuda dos homens, apenas com a graça Divina. O remédio então é esperar, lutar com o que tiver na mão para sobreviver e esperar que passe o tempo das vacas magras. Aí quando os relâmpagos voltarem a cortar os céus e a chuva encharcar a terra, estará chegada a hora de plantar, colher, comer, beber e festejar, agradecendo aos céus pela fartura. 

         Os festejos juninos são tradicionais, principalmente, no Norte e Nordeste brasileiro, e hoje já até virou moda nas festas de outras regiões do País. É uma manifestação popular tão fortemente enraizada na nossa cultura, que mesmo diante de todo sofrimento, não abrimos mão de festejar Santo Antônio, São João e São Pedro. Estamos atravessando um longo período de estiagem e mesmo assim vamos realizar nossos festejos juninos. De uma forma mais modesta, é claro, até porque não há dinheiro para gastar em festas, quando a prioridade é a sobrevivência.

         A política, como eu sempre digo, estraga tudo e também estragou os festejos juninos.  Desvirtuou-se de tal forma esta cultura que a maioria das pessoas já não vê sentido em coisas simples, como sempre foi uma festa junina. Na música, por exemplo, mega bandas de músicas tomaram espaço dos tradicionais trios de forró e transformaram a festa em shows milionários que, inclusive, servem para alimentar a gorda conta bancária de prefeitos desonestos. 

         Não. Esta não é mais aquela festa simples e alegre que animava as cidades do Nordeste brasileiro, onde as portas das casas eram abertas e pessoas desconhecidas eram acolhidas, sem medo, no seio das famílias, para festejar. Em alguns lugares, dizem, a fogueira ainda aquece os corações. Mas, eu ouso dizer:
         Não mudei meu São João, quem mudou foi a cidade!

OBS: Este texto foi escrito ha cinco anos, mas, parece que acabou de ser escrito.

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