quinta-feira, 24 de junho de 2021

Conversa de botequim

       

Apesar de ser tímido para muitas coisas, eu sempre fui bom em fazer amigos, me aproximar das pessoas. Por alguma razão que só Deus sabe, eu nasci com uma ânsia de viver enorme. Sempre fui muito afoito, e no afã de fazer amigos, exagerei algumas vezes e fui chamado de intrometido. Demorou, mas eu acabei encontrando a justa medida das coisas, e esse é o segredo para se fazer e manter boas amizades. Alguns filhos herdaram isso de mim, como é o caso da minha filha Lia. Onde nós chegávamos com ela, ela logo se enturmava. E não era muito seletiva. Fossem crianças ou adultos, ela puxava logo conversa. A ponto do irmão mais velho dela ter comentado certo dia em que fomos a um evento social: “Puxa! Lia já fez amizade.”

         Eu viajei muito pela Bahia e pelo Brasil, a trabalho ou a passeio, mas nunca por pacotes turísticos. Eu gostava mesmo era de me misturar ao povo, conhecer pessoas e através delas conhecer a verdadeira natureza do lugar. O modo de vida, os usos e costumes, suas culturas, seus trabalhos e diversões, e assim conhecer realmente outras terras, outras gentes, e não coisa velha pra turista tirar fotos. Eu já contei que estava em Foz do Iguaçu e resolvi ir ao Paraguai, Ciudad del Leste. Fiz amizade com um taxista e combinamos que ele me pegaria no hotel para sairmos à noite pelos bares da vida. Foi uma experiência inesquecível. Eu me senti o próprio Crocodilo Dundee na noite de Nova York farreando pelos bares com um taxista. (Quem assistiu ao filme sabe do que estou falando).

Aliás, em Foz do Iguaçu eu fiz coisas que nunca tinha tido oportunidade de fazer. Entre elas, jogar Golfe e sobrevoar as cataratas num helicóptero Panorâmico (Carlinga/Cabine de vidro), uma experiencia sem igual, fascinante. Não preciso dizer que depois de duas horas de aula de golfe eu convidei o professor para beber no bar do Iguaçu Golf Club e batemos um bom papo. Também fiz amizade com os garçons e o pessoal da cozinha do hotel.

Da última vez que estive em Aracaju meu filho me levou ao Mercado do Centro onde ficamos no box de Marcio, que eu já havia conhecido em outra oportunidade. Sentamo-nos a uma mesa e ficamos ali conversando. Junto a nós havia uma mesa animada onde estava um grupo de marinheiros aposentados. Não demorou e, sob um pretexto qualquer, eu entrei na conversa dos caras. O papo foi ficando bom e logo juntamos as mesas. Depois cada um foi tomando seu rumo e nós nos oferecemos pra dar uma carona ao último, que seguiu conosco para sua casa, não sem antes tomarmos uma saideira pelo caminho. Foi uma tarde muito divertida, com muitas estórias de marinheiros.

 Eu e meu amigo Edson Almeida, voltávamos de uma das suas fazendas, em Riachão do Jacuípe, e já estava escurecendo quando passamos por Ichu e vimos numa esquina um bar aberto. Convite irrecusável para uma cervejinha. Ele parou e, de dentro do carro, chamou aquele que parecia ser o dono do bar. Ele se aproximou e Edson pediu duas cervejas em lata (estava com pressa). Mas não tinha, e eu, mais rápido que o melhor pistoleiro do oeste, disse: Edson, vamos descer e tomar uma no balcão. Ele, “inocente”, topou. Enquanto a gente bebia eu notei um grupo que ouvia um jogo do Bahia num rádio em cima de uma mesa. Perguntei como estava o jogo, e logo me identifiquei como torcedor do Bahia que sou, daí pra frente eu já era mais um torcedor em volta do rádio, pedimos outra cerveja, depois outra, o jogo acabou e entramos em outras conversas, inclusive sobre música. O resumo da ópera é que, já eram quase oito da noite e havia uma roda com cerca de dez bebuns abraçados cantando seresta. Não conheço coisa melhor na vida do que essas amizades e conversas de botequim.

 

 

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