sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Coisas de Caguto


Acontecem coisas com meu amigo Caguto que, às vezes, eu acredito que só acontecem com ele. Em termos de saúde, por exemplo, desde que o conheço que ele é hipertenso. Todas as vezes que ele achava de medir a pressão, queriam internar ele imediatamente. O normal dele é 20 X 11, 25 X 15, e por aí afora. E não adiantava ele argumentar que desde jovem que a pressão dele é alta. Os médicos ficavam apavorados. Chegaram a internar ele algumas vezes, mas depois de algum tempo desistiam de abaixar a pressão dele. Só quem conseguiu foi o Dr. Mário Sérgio Bacelar, mas esse é fera.

Quando ele passou dos 50 tudo foi ficando mais difícil, começaram a surgir as mazelas da idade. E não foram poucas as vezes em que ele andou no “bico do urubu”. A pior de todas não faz muito tempo. Algumas artérias do coração estavam quase obstruídas e os médicos resolveram colocar algumas molas que eles chamam de “stents”, que servem para manter as artérias abertas.

E lá foi ele para a mesa de cirurgia para colocar dois “stents”. Eram necessários quatro, mas, o Sistema Único de Saúde, sabe Deus por que, só permite que se coloque dois de cada vez. Os dois foram colocados e ele voltou para casa. Decorrido o tempo necessário, lá se foi ele outra vez para colocar os outros dois. O procedimento foi realizado no Hospital D. Pedro de Alcântara. Já era noite quando o provedor da Santa Casa de Misericórdia, o nosso amigo Dr. Outran Borges, recebeu um telefonema desesperado do cirurgião médico:
- Dr. Outran. Eu nunca vi algo assim em toda minha vida. O seu amigo está sofrendo um enfarto na mesa de cirurgia, e o medicamento para salvar a vida dele custa CR$ 4 mil, e o SUS não cobre. O que é que eu faço? Não tem ninguém dele aqui para decidir.

Imediatamente Outran autorizou a aplicação do medicamento e Caguto foi salvo. Mas ninguém pense que ele renunciou à vida boêmia. Continua tocando violão e tomando pinga da boa. E assim ele vai passando os dias. De férias há mais de 15 anos, tudo que ele precisa é de um violão, uma pinga da boa, um lugar para pescar e alguém do sexo oposto para lhe fazer companhia. O resto se resolve.

Por falar em pescaria, um dia ele foi pescar no sítio de um amigo, à beira mar, e lá conheceu um grupo de pessoas, pescadores como ele, visitantes e nativos. Cozinheiro de mão cheia, estava ele preparando alguns peixes quando percebeu que não tinha farinha para fazer um pirão do caldo de peixe. Ele então se lamentou:
- Poxa! Faltou aqui agora uma farinha da boa.
Um nativo que estava por perto, disse que poderia dar um jeito.
- Quanto de farinha você quer?
- Um quilo tá bom.
- UM QUILO?!!!
Assustou-se o nativo, para quem Caguto estava se referindo àquela farinha brilhante, derivada das folhas de Coca.

Eu estava sentado com ele à mesa de um bar, e tinha uma TV ligada perto da gente. Em determinado momento passou uma publicidade na qual aparecia um anzol com uma minhoca mais rebolativa que a Shakira, e um peixinho se aproximava fascinado pelas evoluções da moça, digo, da minhoca. De repente, um peixão, ou melhor, um peixe grande, se aproxima do peixe pequeno, dá uma bronca nele e o afasta dali. Era uma propaganda anti o consumo de drogas.

Caguto não se conteve. “Tá vendo aí. É por isso que a gente não está achando mais o que pescar aqui na região de Feira de Santana. Esse peixe aí deve ter aprendido essas manhas com João Borges (comerciante esperto da cidade). João Borges deu um curso de malandragem pros peixes de Pedra do Cavalo, nenhum deles mais vem no anzol”...

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