quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Casa de aluna que criou “Diário de Classe” é apedrejada



 A casa da estudante Isadora Faber, 13 anos, no bairro do Santinho, região norte de Florianópolis, foi apedrejada na segunda-feira passada (5), segundo a própria relatou na comunidade “Diário de Classe”, no Facebook.
“Ontem à noite, teve uma chuva de pedras em casa. Uma delas atingiu minha vó de 65 anos (foto ao lado) que sofre de uma doença degenerativa. Meus pais tomaram as providências e hoje levaram minha vó para fazer exames e para a polícia. Lá eles fizeram os exames de perícia, agora ela está em tratamento. Incrível como tem gente ignorante, gente que não tem mínimo de decência. Alguns coitados pensam que são donos de tudo e da verdade, pensam que podem nos intimidar, mas não vão conseguir”, escreveu a adolescente.
Faber ficou conhecida por denunciar na comunidade do Facebook o sucateamento do colégio público em que estuda, a Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho. Depois das denúncias, a garota contou que recebeu ameaças. A menina que arregimentou mais de 340 mil seguidores com uma página em que denuncia os problemas da escola pública em que estuda, e mesmo depois da fama não pensou em parar. Pelo menos enquanto não muda para um colégio privado na cidade, para onde os pais pretendem mandá-la no ensino médio. 

O “Diário de Classe” começou a ser publicado em 11 de julho. Bombou em agosto. A menina não parece ter noção de sua fama, nem pisca quando alguém menciona os números do Facebook ou a repercussão na mídia. Ficou assustada com a pressão? “Não”. Pensou em parar de postar críticas na rede social? “Nunca”. Respostas curtinhas, Isa não é mesmo de muitas palavras. A caçula-celebridade-problema tem dois lados, um deles “é de poucas palavras” e o outro “é de dedos afiados”, explica a irmã Eduarda.
Ela diz gostar da escola. Isto porque “é a única que conheço desde a primeira série”, diz. Isa faz o ensino fundamental na escola pública, mas deve fazer o ensino médio em escola particular. Mesmo caminho feito pela irmã Eduarda, que hoje estuda no Energia, uma das escolas mais caras da cidade. 

Responsabilidade
A rotina escolar da garota não mudou apesar da fama. Ela continua despertando sozinha pelo seu smartphone, o mesmo que usa para fotos do Facebook. Enquanto se ajeita pra escola, a mãe dorme numa boa: “O horário é responsabilidade dela, tem que ser independente”, ensina Mel.
A menina “às vezes” toma um copo de leite e sempre caminha os 700 metros até a escola, mesmo com chuva: “Minha mãe nunca me leva”, resmunga, apontando com nariz para o Mercedes-Benz de Mel, no pátio. A mãe se defende dizendo que “desde que começou o rolo” vai caminhando com a filha até a escola, “só por precaução”. A agenda dela a curto prazo inclui viagens para Bahia, Pernambuco e São Paulo, mas os pais, superprotetores, fazem de tudo para não alterar a rotina escolar.
Depois de seu exemplo, estudantes por todo o Brasil criaram também seus diários de classe. Isadora acompanha as iniciativas e dá um conselho sério para quem quiser fazer denúncias contra outras escolas: “Tem que ter certeza do que está escrevendo e usar fotos para comprovar”. Ela vê seu Diário como jornalismo e diz que quando crescer vai seguir a carreira.

Comentários
O “Diário de Classe” tem muito seguidores e recebe muitos comentários como este de Guilherme Schultz:
“Pois é. Mais um dia triste. Parece que estamos criando uma nova forma de censura. Vivemos num país que não se pode escrever biografias, o humor não pode rir da realidade e da sociedade, censura prévia de jornais, filmes são censurados por tratar de religião. É triste quando os valores mais simples e democráticos são esquecidos. Essa pequena é um exemplo e está sofrendo como gente grande. É admirável ver a luta dela dia a dia. Quero lembrar as palavras de Voltaire: ’Eu desaprovo o que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo’.  É uma vergonha ver que nosso país que tanto lutou pela democracia, hoje flerta com outro tipo de autoritarismo”.

Fonte: UOL

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