quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Gilmar, Temer, e a mulher de César

Diz um aforismo que à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta. Esta afirmação  faz sentido diante da viagem que o Ministro do STF, Gilmar Mendes, presidente do TSE, fez no avião da Presidência da República, para Portugal, a convite de Temer, supostamente para ir ao enterro do ex-Primeiro Ministro Mário Soares.
Acontece que Temer é réu no TSE e será julgado por Gilmar. A viagem é legal, o ministro pode afirmar que isso não influência seu julgamento, mas com certeza não soa bem. Em verdade soa de forma indecente, pois um ministro não deveria viajar de forma privativa com alguém que irá julgar. A liás, a desenvoltura como comentarista, uma indescritível vontade de aparecer na mídia, e pouco apego a liturgia do cargo,  faz de nossa corte um caso particular. Tal intimidade seria inimaginável nos EUA.
Lá chegando, GIlmar, não foi ao funeral- pretexto oficial- e também não voltou com Temer, preferindo esticar férias. Foi divulgado por sua assessoria que o ministro Gilmar, por ter labirintite, não foi ao velório. Soa estranho que o ministro apesar de não poder comparecer ao enterro, por estar mal- uma deselegância, no minímo, se não fosse a doença- estava bem para permanecer de férias.
Faz mal a Justiça, que já vive cambaleando das pernas, e aos tribunais superiores, este episódio Gilmar/Temer. Todos os pastéis de nata de Portugal, as cabeças de bacalhau, e as caravelas de Cabral, entendem que ambos foram conversar sobre o futuro do Presidente Temer. O desenrolar- se favorável ou não-, não sabemos. Teoricamente o afastamento poderia sugerir que a conversa não foi boa para Temer, mas pode ser, também, apenas, jogo de cena, de quem foi capaz de aceitar um convite destes.
Evidente que não se pode acusar Gilmar Mendes de nada, mas como diz a sabedoria milenar, não basta ser honesto, tem de parecer honesto. 
Não ficou bem. 

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