domingo, 5 de agosto de 2012

Mulher gosta de receber cantada na rua?

 Dia desses, acompanhei a discussão de um casal de amigos. Ele começou a maldizer o vício em fones de ouvido. “Acabou com as alegrias da vida: passar uma cantada de leve na moça que vem andando ou dar duas buzinadas; de repente, até um assobio. Não dá mais. Elas se fizeram surdas ao amor e à molecagem”, reclamou. Minha amiga tentou explicar que pro sexo feminino isso era uma grande conquista, que a maioria acha uó homem que mexe com mulher na rua. Ele não se convenceu; continuou (e ainda é assim) achando legal — e até bonito — paquerar desse jeito. “É um gesto de cordialidade.”

Tomei partido. Também acho o fim tropeçar num “Ê gostooooooooooosa!” no meio do caminho. Não é que acho desrespeitoso ou machista. Nem dá tempo de teorizar. É instintivo: dá vergonha alheia pelo cidadão, que continua com aquele sorriso maroto, a maldita língua molhando compulsivamente os beiços e o olhar fechadinho, com cara de “Te quiero”. Ah, gente, get a life. 

Será mesmo que os homens acreditam que mulher acha bacana receber cantada assim? Fazem isso para preencher o tempo livre? Ou acham engraçado ver a reação sem-jeito delas?

Saí perguntando. Conversei com quase 20 homens de idades variadas. A maioria começou com um “Ah, depende do contexto”. A partir daí, uns disseram ter certeza de que, no fundo, a mulher adora o elogio cafajeste; “Se o homem não fizer algum comentário medieval, faz bem pro ego”, disse o jornalista. Outros têm certeza de que a gente odeia: “É invasivo”, me respondeu o publicitário. (Mas não é por isso que abrem mão dos chamegos: “Já parei pra pensar se elas gostam ou não… De todo jeito, quando é gata eu assobio”, admitiu o fotógrafo.)

Pelo que pude concluir, pros homens, pouco importa se mulher gosta. Se eles gritam, piscam, mandam beijos, assobiam e distribuem olhares indiscretos é mesmo pra dar voz ao sentimento, e não pra ter algum retorno. Como falou um amigo: “Embora inconsciente, é uma demonstração de força entre gêneros, uma forma de controle”. “Ela não vai gostar do homem que mexe com ela, mas vai gostar do ato em si”, completou o outro.
Pra ser sincera, não sei se dá pra generalizar a reação feminina. Ainda mais depois que lembrei do mantra predileto duma amiga: “Tá infeliz? Se joga na Teodoro!” (em referência à Teodoro Sampaio, rua paulistana e reduto predileto de motoboys que elogiam qualquer dupla de cromossomos X). Afinal, o que vocês acham? Como vocês se sentem quando ouvem um “Ô lá em casa” ou alguma safadeza-boca-suja? Aliás, o teor do xaveco rueiro faz diferença?

Luíza Karam é repórter de ÉPOCA em São Paulo.

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