sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Vozes da seca


           O título não é original, é de uma música composta em 1950 por Luiz Gonzaga, onde relatava os problemas enfrentados pelos nordestinos nos períodos de longas estiagens. De lá pra cá quase nada mudou. Se criou até um departamento de obras contra a seca (Dmocs) que se constituiu em mais um cabide de emprego e não atingiu os seus objetivos. 

            Hoje sabemos que não se combate a seca, se convive com ela. Tecnologia para isto nós temos. o que não temos é vergonha na cara.Ninguém nunca quis realmente preparar os nordestinos para conviver com os períodos de longa estiagem, que sempre acontecem na região. Quem poderia resolver, os governantes, não o fazem simplesmente porque para eles quanto mais miséria melhor.

            O assistencialismo, o paternalismo, o clientelismo político, sempre foram praticas exercidas pelos governantes desde os tempos dos coronéis. Nos tempos modernos o ex-presidente Lula, um coronel moderno, institucionalizou a esmola em troca de voto através do programa Bolsa Família. 

            Feira de Santana nasceu do gado, que fortaleceu o seu comércio e entrou na era industrial. Mas, nunca perdeu a sua característica agropecuária. Aliás, creio que em qualquer cidade do mundo as coisas só andam bem se o campo estiver bem. Afinal, é o campo quem abastece a cidade de alimentos e é com o dinheiro obtido na venda dos alimentos que o homem do campo faz compras na cidade. Uma via de mão dupla. 

            Atualmente a agricultura familiar tem sido o esteio do homem do campo. A criação de pequenos animais, as hortas comunitárias, as associações e cooperativas que   transformam e beneficiam a produção do campo geram emprego e renda que permite aos ruralistas viverem em suas propriedades acabando assim com  êxodo rural. 

            Contudo, a seca ainda é um problema. Os sucessivos governos não fizeram nada, ou quase nada, para auxiliar o homem do campo na convivência com este fenômeno natural. Os mais velhos em sua maioria já aposentados, e sem outra opção de trabalho para melhorar a renda obtida com a aposentadoria permanecem trabalhando na terra. Mas, os jovens não querem seguir os passos dos pais.  Residem no campo mas, trabalham na cidade.  Isso acontece porque além da facilidade do transporte coletivo, está muito fácil comprar um carro ou uma motocicleta. Isso sem se falar no transporte clandestino. 

            Parece que ninguém percebe o problema que está se criando. À medida que os velhos forem morrendo não haverá substitutos para trabalhar na terra e produzir alimentos. Alguém poderá argumentar que a agricultura familiar não é a solução e sim os grandes conglomerados de empresas produtoras de alimentos, embora de propriedades salutares duvidosas. 

            Precisamos urgentemente despertar para o fato de que dinheiro não se come.

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