Tenho duas amigas com sérias dificuldades para estabelecer um relacionamento amoroso.
A primeira está na faixa dos 40 anos, é advogada e não gosta da profissão, tem uma estabilidade financeira, um bom apartamento (quitado), fuma um maço por dia, é inteligente, bem informada e lê mais de um livro por mês.
A segunda tem pouco mais de 20, formou-se em Direito e não gosta da profissão, gasta mais do que ganha, mora de aluguel, fuma um maço por dia, é inteligente, bem informada e sempre apreciou a leitura.
As duas são bonitas. Não de uma maneira óbvia, de estampar propaganda, mas de gerar um impacto que te faz observar as características de cada.
E, mesmo assim, estão solteiras.
A primeira tem uma teoria que brada como se fosse um dogma, mas não cumpre: “Fecha a boca, mulher”, disse, certa vez, à segunda, num insólito encontro promovido por mim na FLIP.
A teoria é a seguinte: Não interessa ser inteligente, bem sucedida, bonita se você não se comportar direito. Por “direito”, entenda-se: falar baixo, sentar com os pés no chão, não ter opiniões assertivas e jamais dizer bobagens e palavrões. “Homem gosta de mulherzinha”, diz.
Nenhuma das duas segue esse manual. Falam alto, riem com escândalo, fazem piadas, imitações, comentários ácidos ou debochados, falam palavrões, não conhecem eufemismos, mexem com as pessoas na rua, riem de si próprias. Logo, não são levadas a sério, apesar dos outros predicados. Não são “pra casar”, como também não eram as vedetes dos antigos teatros de revista.
Mulheres que fazem rir são uma novidade, quando se olha para a História, e um sinal da ascensão da mulher na sociedade. Mas seria a solidão amorosa o preço dessa interessante característica, como fora, no passado, a independência financeira e intelectual? Se sim, não é difícil imaginar o que diria Dercy Gonçalves, a primeira brasileira a fazer rir publicamente – e a pagar por isso.
http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7
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