sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Cálice



 O episódio envolvendo uma banda de pagode e duas adolescentes, ocorrido em Itaberaba na semana passada, é apenas mais um triste capítulo da história recente da Musica Popular Brasileira, particularmente a baiana. Mas, o problema não está na música em si (e não poderia estar). Tudo isso tem origem no mesmo lugar de onde se origina todos os problemas que assolam o Brasil: a falta de investimentos em Educação.
         Se analisarmos pelo aspecto dos músicos, chegaremos à conclusão que em sua maioria são jovens oriundos das periferias, criados no seio de famílias desestruturadas, e portanto, sem educação de berço, estudando em escolas públicas, onde o ensino é de péssima qualidade, e cresceram convivendo com a criminalidade e a impunidade dos criminosos de todos os níveis. Alguns podem ser oriundos de bairros nobres e filhos de pais ricos, mas que igualmente não receberam educação caseira, não se lhes impuseram limites, e acreditam no poder do dinheiro que pode comprar tudo e todos.
          Se analisarmos pelo ponto de vista das moças, veremos que são jovens simples, oriundas igualmente da periferia, igualmente criadas no seio de famílias desestruturadas, sem educação de berço, alunas de escolas públicas, e que cresceram na esperança de “fisgar” algum jovem rico e famoso (artista ou jogador de futebol, de preferência) para, quem sabe, ter um filho e receber uma polpuda pensão. O ensino público, no Brasil, nega aos seus jovens alunos qualquer perspectiva de um futuro promissor com base no conhecimento.
         E o que tem a música a ver com tudo isso? Quase nada, eu diria. Quase porque, dependendo do nível de educação de um povo, as letras das músicas mais tocadas e mais ouvidas são aquelas melhor elaboradas. Que trazem nas suas letras conhecimento, poesia, harmonia e mensagens úteis. Até os apelos sexuais são sutis e sensuais, objetivando apenas enlevar os amantes. Não há grosserias e agressividades.
         Os poetas nordestinos antigos, que não tiveram acesso à educação acadêmica, quase todos semi analfabetos, tiveram educação caseira e embora músicos autodidatas criaram peças musicais que estão gravadas para sempre na história da MPB e na memória do povo. E a música influencia na cultura e no comportamento de um povo, principalmente entre os jovens, que rapidamente atendem ao chamado para “fazer uma ronda”, “cafungar” ou “ralar a tcheca”.
         E como não há perspectivas de que os governantes ou as elites irão se mover para resolver o problema, a gente só pode lamentar estes fatos e proteger os nossos filhos usando todo o conhecimento que obtivemos de berço (pelo menos os que tiveram berço). Sinceramente, me dói muito ver a nossa juventude assim, perdida, me sentir sem forças para lutar por mudanças.
         Só posso pedir: “Pai! Afasta de mim este cálice, de vinho tinto de sangue”.

Um comentário:

Anônimo disse...

concordo com tudo que voce disse, parabens.
wellington nogueira