sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Cuba não é aqui



         Confesso que nunca tinha ouvido falar na blogueira cubana Yoani Sanches antes de começarem a propalar a sua vinda ao Brasil, com passagem por Feira de Santana. Veio para participar do lançamento de um documentário sobre Cuba, produzido por um cineasta brasileiro. Acessei o seu blog, Generacion Y, e vi que se trata de uma jornalista que critica o governo cubano, o que para mim, foi uma surpresa, saber que alguém pode, em Cuba, criticar o regime ditatorial de Fidel Castro, sem ser preso ou fuzilado. Ela se diz perseguida. Não seria normal se não o fosse.

         Aqui no Brasil, onde o regime político, diz-se democrático, qualquer um que criticar o governo, seja que governo for, será visto com maus olhos pelos seus membros e por isso, de alguma forma, vai sofrer perseguição. É o preço que se paga por falar o que se quer. E quando se passa da crítica à ação, a reação é violenta, como se viu no episódio, bem lembrado pelo jornalista Edson Borges, dos estudantes que foram às ruas protestar contra o aumento das passagens de ônibus, e foram perseguidos e presos pela polícia. E olha que a manifestação era pacífica.

         A cubana poderia ter chegado, assistido ao documentário e ir embora sem que a sua presença fosse muito notada, apesar de ter atraído para a cidade profissionais da imprensa do mundo inteiro. Mas, com sempre, Feira de Santana ganhou destaque nacional e internacional da pior maneira. Algumas dezenas de manifestantes não se contentaram em protestar, o que é um direito garantido pela Constituição Brasileira. Mas o fizeram de forma raivosa, violenta, desrespeitosa e mal educada. Nenhum traço de civilidade.

         A manifestação tomou contornos de baderna, com xingamentos e até tentativas de agressões físicas, não apenas à cubana, como também a profissionais da imprensa que cobriam o evento. Não se respeitou sequer a presença do senador da república, o petista Eduardo Suplicy. A cubana disse que achou bonita a manifestação, porque gostaria que tivesse o mesmo direito no seu país. Mas também se disse assustada pela forma raivosa como foi tratada. “Em alguns se via claramente as veias ressaltadas no pescoço”, comentou ela no seu blog.

         A cubana chegou, deu entrevistas, participou de debates em outros espaços, foi a Brasília e vai continuar sua turnê pelo mundo, cujo destino final é os Estados Unidos. E aqui ficamos nós, ainda tentando entender o que aconteceu. Porque os manifestantes emitiram uma “nota oficial” a título de “esclarecimento”, que não esclarece nada. Pelo contrário, turva ainda mais as águas, distorce a verdade e muda o foco do assunto, numa vã tentativa de confundir a opinião pública, que viu tudo pela TV, jornais, rádios e redes sociais.


         A tal nota é assinada por movimentos desconhecidos ou pouco conhecidos. Curiosamente, um deles se autodenomina “Ocupação Chico Pinto”. Para quem não sabe, Chico Pinto foi o político feirense que mais se destacou nacionalmente, preso e torturado pelo regime militar, por defender as liberdades democráticas de ir e vir e de expressão de pensamento.

Nenhum comentário: