quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Fotografando um espírito



Há poucos dias, correu uma história pelo interior de São Paulo sobre uma possível foto de um espírito. Uma fã, num show do cantor Daniel, tirou uma foto do mesmo e ao lado aparecia uma silhueta de um homem com características negras.

A associação da foto com o ex-companheiro de Daniel, o cantor João Paulo, desencarnado num acidente de carro, era o que parecia de mais lógico.

A imprensa foi assanhada e entre familiares e espíritas em busca de explicações não faltou entrevistas. Ninguém conseguiu dar a explicação que a mídia queria ouvir e nem poderia. Uma explicação coerente só poderia partir dos esotéricos que, além de espíritas são os bandeirantes do invisível.

Os familiares não sabiam o que dizer e os espíritas ainda vivem um trauma, muito forte, de perseguição onde um juiz francês acabou condenando três deles á prisão. E o motivo? A "Revue Spirite" publicou em 1874 algumas fotos de espíritos feitas por Édouard Buguet um fotógrafo e médium de efeitos físicos.

Buguet havia feito muitas fotografias de pessoas que já haviam morrido e isso gerou uma forte repercussão na época.

Léon Denis, para assegurar o desenvolvimento do Espiritismo, fundou uma sociedade anônima e de capital variável à qual destinou os seus bens e, após sua morte, Leymarie tornou-se administrador. Foi por iniciativa de Leymarie que os livros de Kardec foram traduzidos para vários idiomas.

O espiritismo, na França, sempre foi voltado para a área investigativa e isso levou Leymarie a publicar essas fotos na "Revue Spirite".

Alguém denunciou como fraude e um certo juiz aproveitou a situação para tirar umas “lasquinhas” nos espíritas.

Leymarie, Buguet e o americano Alfred Firman foram levados à corte e quando tentavam se explicar o juiz se enraivecia ainda mais. Ele não admitia essa história de espíritos e nem mediunidade.

O juiz deixou transparecer essa a sua aversão de tal maneira que chegou a agredir com palavras fortes e em plena corte, a viúva de Léon Denis (Kardec), Amélie Gabrielle Boudet, por ter tentado explicá-lo sobre espiritualidade.

O resultado não poderia ser outro. O fotógrafo Buguet ainda tentou inocentar Leymarie redigindo um documento mostrando que o mesmo não teve nenhuma participação nas fotografias, mas o juiz desconsiderou sua defesa.

Os três foram condenados e Leymarie só consegui sair da prisão um ano depois e após pagar uma pesada fiança. Esse episódio até gerou um livro com o título “Processo dos espíritos”.

Os espíritas passaram a ser visto como farsantes.

Em janeiro de 1884, no Rio de janeiro, foi fundada a Federação Espírita Brasileira e se Bezerra de Menezes, em 1889, não aceitasse o convite para presidir essa federação, talvez ela também entrasse em decadência.

Talvez seja por isso que alguns espíritas fogem do caráter investigativo talvez pra não se  deparar com outro “Auto de Fé de Barcelona” ou mais um "Procès des Spirites".
Conrado Dantas

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