Tem muita gente que está vivendo
um estágio espiritual tão primitivo aqui na terra que pensa que seu objetivo aqui
é ganhar dinheiro fácil, ter carro bonito e mesa farta. Depois, curtir umas boas
noitadas com “as novinhas”.
Ninguém é de ferro. Também não
vamos pensar que esses tribais estejam alocados nas periferias como os
beneficiários da “Bolsa família”. Têm muitos espíritos encarnados em boas
famílias, com anel no dedo, e no mesmo nível.
Vou retratar a história de um
autêntico tribal, classe média, e bom profissional. Os nomes são fictícios para
preservar os figurantes.
Não faz muito tempo e eu me recordo muito bem de
um conhecido que chamarei aqui de Zé Pezão. A escolha desse pseudônimo tem tudo
há ver com o personagem.
Uma certa feita Zé Pezão, pedreiro
bom que era, acertou bater uma laje na casa do mecânico “Chupetão” também
conhecido como “Mosquito da Dengue”.
O pagamento ficou entre a cachaça dos ajudantes de Zé Pezão e um som
terrivelmente barulhento de Chupetão o qual os vizinhos já tinham jurado
quebrar.
Terminado o serviço da laje Zé
Pezão acomoda em seu Fiat 147 toda aquela parafernalha de caixas de som,
enxadas, pás e vários pedaços de madeira que só ele sabia pra que servia. Empurra
daqui, empurra dali, queima, acelera, bota na segunda,... Entre algazarra e “Fiu-fius” Zé Pezão acelera
e desaparece no meio daquela fumaceira com cheiro de gasolina.
Uma semana depois, terminada novela das oito, aparece Zé Pezão com seu
Fiat 147, teto adaptado e sobre ele as caixas de som. Não era mais o pedreiro e
sim uma outra figura. Terno cinza, gravata azul, uma Bíblia na mão esquerda e
um microfone na outra.
- Atenção povo de Deus... - Era a frase âncora do seu discurso evangélico
e parou bem em frente à casa de Chupetão. – essa noite nosso Jesus vai operar
em sua vida.
Nisso Chupetão, sem camisa,
descalço e usando um calção que mais parecia uma cueca samba canção, se
aproxima enraivecido do tal carro de som. Acabava de provar do seu próprio
veneno.
Zé Pezão percebendo tudo, tenta amenizar a situação e de imediato lhe passa
o microfone.
- E aí meu irmão, dê seu
testemunho para o povo de Deus que está lhe ouvindo.
Chupetão de cenho franzido,
microfone na mão, acerta no improviso.
“Atenção povo de Deus
Cuidado com o povo do Diabo
O povo de Deus tá dormindo
O do diabo tá acordado
Quem gostou da rima é de Deus
E quem não gostou... é viado”.
Mal Chupetão terminou sua rima Zé Pezão arrastava do fundo do Fiat uma
“pá” e investia contra aquele poeta maldito. Ninguém é besta de esperar tempo
ruim e os dois, um de terno e gravata e o outro, só de cueca, desapareceram rua
a cima. De cá, ouvia-se os gritos de Zé Pezão: - Em nome do meu Jesus, se eu te
pegar eu te mato.
Conrado Dantas
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