terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O pedreiro e o pastor



 Tem muita gente que está vivendo um estágio espiritual tão primitivo aqui na terra que pensa que seu objetivo aqui é ganhar dinheiro fácil, ter carro bonito e mesa farta. Depois, curtir umas boas noitadas com “as novinhas”.
Ninguém é de ferro. Também não vamos pensar que esses tribais estejam alocados nas periferias como os beneficiários da “Bolsa família”. Têm muitos espíritos encarnados em boas famílias, com anel no dedo, e no mesmo nível.
Vou retratar a história de um autêntico tribal, classe média, e bom profissional. Os nomes são fictícios para preservar os figurantes.
 Não faz muito tempo e eu me recordo muito bem de um conhecido que chamarei aqui de Zé Pezão. A escolha desse pseudônimo tem tudo há ver com o personagem.
Uma certa feita Zé Pezão, pedreiro bom que era, acertou bater uma laje na casa do mecânico “Chupetão” também conhecido como “Mosquito da Dengue”.
  O pagamento ficou entre a cachaça dos ajudantes de Zé Pezão e um som terrivelmente barulhento de Chupetão o qual os vizinhos já tinham jurado quebrar.
Terminado o serviço da laje Zé Pezão acomoda em seu Fiat 147 toda aquela parafernalha de caixas de som, enxadas, pás e vários pedaços de madeira que só ele sabia pra que servia. Empurra daqui, empurra dali, queima, acelera, bota na segunda,...  Entre algazarra e “Fiu-fius” Zé Pezão acelera e desaparece no meio daquela fumaceira com cheiro de gasolina.
   Uma semana depois, terminada novela das oito, aparece Zé Pezão com seu Fiat 147, teto adaptado e sobre ele as caixas de som. Não era mais o pedreiro e sim uma outra figura. Terno cinza, gravata azul, uma Bíblia na mão esquerda e um microfone na outra.
  - Atenção povo de Deus... - Era a frase âncora do seu discurso evangélico e parou bem em frente à casa de Chupetão. – essa noite nosso Jesus vai operar em sua vida.
Nisso Chupetão, sem camisa, descalço e usando um calção que mais parecia uma cueca samba canção, se aproxima enraivecido do tal carro de som. Acabava de provar do seu próprio veneno.
  Zé Pezão percebendo tudo, tenta amenizar a situação e de imediato lhe passa o microfone.
- E aí meu irmão, dê seu testemunho para o povo de Deus que está lhe ouvindo.
Chupetão de cenho franzido, microfone na mão, acerta no improviso.

“Atenção povo de Deus
Cuidado com o povo do Diabo
O povo de Deus tá dormindo
O do diabo tá acordado
Quem gostou da rima é de Deus
E quem não gostou... é viado”.

  Mal Chupetão terminou sua rima Zé Pezão arrastava do fundo do Fiat uma “pá” e investia contra aquele poeta maldito. Ninguém é besta de esperar tempo ruim e os dois, um de terno e gravata e o outro, só de cueca, desapareceram rua a cima. De cá, ouvia-se os gritos de Zé Pezão: - Em nome do meu Jesus, se eu te pegar eu te mato.
Conrado Dantas

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