domingo, 17 de fevereiro de 2013

De como uma professora vira enfermeira, sexóloga e empresária



              Livre! Nascida como a brisa. Assim se pode definir uma mulher, feirense da gema, que desde cedo tomou as rédeas da sua vida nas mãos e partiu a galope vencendo todos os tabus e preconceitos da sua época, para se tornar numa pessoa bem sucedida e bem resolvida. Ativista da política estudantil, professora, enfermeira, orientadora sexual para a adolescência, e empresária de perfumaria. Uma filha, duas netas, e ainda ostentando no rosto a beleza da jovem que povoava as fantasias dos colegas de escola. Junte-se a tudo isso, sinceridade e generosidade. Esta é Ozana Barreto.
Formada inicialmente em Pedagogia, Ozana enveredou ainda pelos caminhos da Sociologia e acabou por se formar em Enfermagem. Depois fez curso de saúde pública, com especialização em adolescência, na USP. E Educação Sexual no Centro de Sexologia de Brasília (CESEX), e depois em Cuba, no Centro Latino-Americano que era o centro mais avançado de educação sexual, onde fez pós-graduação. “Eu lecionei em colégio público, no João Marinho Falcão, foi meu primeiro emprego”, lembra.
“Quando surgiu a UEFS, eu fiz Ciências Sociais até o 5º ou 6º semestre. Mas não me identifiquei e fui fazer Enfermagem, e achei também que não estava identificada. Mas, fui para Salvador, terminei o curso na Católica, me formei em 82. Logo no estágio vi que não era minha praia. Eu gostava da área de saúde, mas de prevenção, com área curativa eu não me identificava, eu sempre entendi que trabalhar com prevenção era mais importante, porque você estava fazendo um trabalho melhor prevenindo do que você atuar quando o fato já tivesse ocorrido. E aí eu fui pra saúde pública, e começa a minha história profissional”, conta Ozana.
“Fui trabalhar na Promédica, onde eu fazia o controle de qualidade, media o grau de satisfação do paciente e seus familiares, um trabalho inédito, pioneiro, que o Dr. Jorge Valente, que era o dono da Promédica, instalou no hospital Jorge Valente. Mas eu fiz curso de saúde pública e sou graduada em adolescência. Na época havia muita gravidez na adolescência, e ninguém tinha jeito a dar, não se sabia como fazer. Já tinha métodos contraceptivos, anticoncepcional, camisinha, tinha tudo, mas, as meninas continuavam engravidando, e continuam até hoje”, diz ela.
“Eu ainda fiz um curso de planejamento familiar onde abordava sexualidade. Eu fiz no Centro de Sexologia de Brasília (CESEX), e depois fui a CUBA, para o Centro Latino-Americano, que era o centro mais avançado de educação sexual, onde fiz pós-graduação. Aí a imprensa me denominou de sexóloga. Mas não existe isso. Sexologia é a ciência que estuda os problemas concernentes à sexualidade. Trata-se de uma área de atuação multidisciplinar que abrange a Psicologia, a Medicina, Antropologia e Sociologia. O sexólogo é o profissional que cuida da área comportamental em relação ao sexo”, explica.

Política e família
Ativista da política estudantil nos anos 70, Ozana estudava no Ginásio Municipal, numa época em que todo colégio público se posicionava politicamente. “Eu participei daquelas passeatas, na época em que acabaram com os grêmios estudantis, que passaram a ser Centro Cívico. Eu me infiltrei para participar, porque Centro Cívico foi o nome que a ditadura deu com preconceito, porque as grandes lideranças vinham dos grêmios. Eles entendiam que grêmio era lugar de comunista, de ditadores, de pessoa oposicionista, pessoas assim que eles não queriam. Mas a gente estudava, a gente lia, a gente pensava. Éramos exatamente como eles não queriam que fossemos”.
 Os Centros Cívicos eram controlados pelas diretorias dos colégios. O presidente era escolhido pelo diretor do colégio, não existia mais eleição, de estudantes. Mas eu fiz parte do Centro Cívico do Municipal, que tinha uma característica que, por ser público, mesmo a gente vivendo naquele momento a ditadura, tinha um grupo ativo, que agia, fazia acontecer. Cheguei a ser cogitada para ser candidata a vereadora”, lembra.
A família de Ozana Barreto sempre foi muito politizada, embora não tivesse gerado políticos. O pai, Agnaldo Barreto, era músico, professor de música e foi maestro da filarmônica Vitória. A mãe, Josefa Machado, era professora de colégio público. Os filhos, quatro homens e quatro mulheres, embora alguns tivessem ensaiado e alguns até buscado um mandato eletivo, nunca lograram êxito.

A empresária
A vida empresarial de Ozana Barreto começou em 1983 por acaso, sem nenhum planejamento. “Eu ganhei um presente de aniversário de minha comadre, um  perfume chamado Acqua Fresca e umas gotinha de um óleo de passar no corpo. Eu me encantei, liguei no outro dia agradecendo o presente e perguntei que marca era e onde encontrou.Tinha uma loja no Barra Center e uma loja no Iguatemi em Salvador. E eu fui lá no Barra Center conhecer, e conversei com a dona e me interessei”.
 “O Boticário já tinha perfumes, cremes, desodorantes, mas não tinha o que tem hoje, estava ainda no início e Acqua Fresca era o carro chefe da empresa, que é de Curitiba, genuinamente brasileira. E hoje são 3.700 lojas no Brasil. Patrick e Astride eram os donos de Salvador, ele é inglês e ela alemã, e eu me comuniquei com eles por telefone e me dirigi à loja deles no Iguatemi.  Conversei com eles, disse que tinha interesse em abrir uma loja O Boticário em Feira de Santana, e em três 3 meses a loja já estava aberta, na Galeria Carmac, eu tendo eles dois como sócios”, conta ela.
“No primeiro ano nós fechamos em vermelho, e eles disseram que não tinham interesse em continuar. E eles foram muito legais comigo e facilitaram tudo para que eu ficasse com a loja. Mas eu já estava em Salvador, começando a ascender profissionalmente, e minha irmã Suzana, que era gerente da loja, passou a ser minha sócia. Nós abrimos mais lojas, no Arnold Silva, Feira Shopping, Praça da Bandeira, Getúlio Vargas, Senhor dos Passos. Hoje temos 10 lojas em Feira. Eu e minha irmã já não somos sócias a mais de 12 anos, mas ela ficou com as lojas de Alagoinhas, São Gonçalo e Inhambupe . Eu permaneci em Feira”.
Ozana Barreto foi a segunda presidente da Associação de Lojistas do Shopping Iguatemi (hoje Boulevard). “A gente que tá na chuva é pra se molhar. É igual a prédio, onde todo mundo odeia ser síndico e ir pra reunião de condomínio. Mas se você mora no prédio, vai deixar ele cair em sua cabeça? Vai ser omisso? Mas já estou perto de aposentar da minha profissão, que continuo exercendo em Salvador, minha filha, Lua, já está com 29 anos, e tem duas meninas, eu tenho duas netas. Ela já está morando em Feira e se preparando para me substituir na empresa”, revela Ozana.

Trabalho Social
“Em Feira eu sempre gostei de desenvolver trabalho social, sempre foi minha cara. Desde jovem eu me envolvia com a Associação Feirense de Assistência Social (AFAS). Mas ela tinha um trabalho mais de dar o peixe, e eu gosto de ensinar a pescar. Sou voluntária há 10 anos do Grupo de Apoio à Criança com Câncer. Também faço um trabalho com a Pastoral da Criança no bairro Aviário, e mais recentemente tenho auxiliado na creche Dagmar Silva, que foi o trabalho da vida da ex-primeira dama Elizabeth Martins, que hoje está com uma filha dela, Eliane Martins”.
Entrei como amiga da creche, que tem 190 crianças de 2 a 6 anos, como madrinha, como parceira. Ela é focada para mães que trabalham fora, e que não tem como deixar seus filhos. É um trabalho muito bonito, que em Feira de Santana, quem não conhece deve conhecer aquele lugar, lá nas Baraúnas. Fizemos uma reforma geral na creche, construímos um auditório, e estamos arrumando parceiros, porque também agora estou com outro objetivo, que é envolver outras pessoas, porque todos nós somos responsáveis por tudo que tá acontecendo nessa cidade, tudo de bom ou de ruim. Não adianta dizer que é o prefeito, que é o governador, o poder público que tem que fazer. Não! O governo tem que fazer a parte dele, mas a sociedade também é responsável”. afirma.
“Nós temos vários projetos dentro da creche. Além dos já existentes, tem o projeto musical que já deverá começar a acontecer, e temos muitos outros também. a creche tem parque, tem merenda escolar, e toda parte socioeducativa”. Além de tudo isso, Ozana Barreto é uma incentivadora da cultura. Apoia e participa ativamente de todos os eventos culturais da cidade, a exemplo do Bando Anunciador de Santana e Micareta.

Nenhum comentário: