Lá, pelos anos de 1900, em São
Gonçalo, Rio de Janeiro, um jovem de 17 anos, se debatia entre um sonho e um
pesadelo. O desejo de se tornar militar da marina era ofuscado pelo assédio de diversos
espíritos. Para a época, os acontecimentos eram estranhos, até demais.
Zélio Fernandino de Moraes era constantemente
flagrado, conversando com sotaque diferente, numa postura curvada de um velho e
dizendo coisas, aparentemente desconexas.
Os pais de Zélio, preocupados,
pediram ajuda a um tio, médico psiquiatra, o Dr. Epaminondas de Moraes. Como os
sintomas não se enquadravam na literatura médica, a sugestão foi procurar um
padre para um ritual de exorcismo. Também não houve sucesso.
Sua mãe levou Zélio a uma curandeira,
D. Cândida, e o espírito de um preto-velho chamado, Tio Antônio, disse que o
menino tinha o dom da mediunidade. Foi aí que um amigo indicou a Federação
Espírita do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói.
Zélio foi convidado a
sentar-se na mesa junto ao presidente. O fenômeno aconteceu. Zélio incorporou e
falou; “nessa mesa está faltando uma
flor”. Foi até o jardim e trouxe flores. Parece que essas flores sobre a
mesa abriram um portal para espiritualidade, pois os médiuns kardecistas
começaram a receber, caboclos, índios e pretos velhos. Os doutrinadores tentavam
lhes repreender ordenando que se retirassem por se tratar de espíritos sem
evolução, sem doutrinação. Zélio, também incorporado, protestava e, ao mesmo
tempo, um médium kardecista, vidente, tentava uma rápida conversação com o espírito
incorporado.
O médium: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.
O médium: Você se identifica como caboclo, mas vejo em
você restos de vestes clericais.
O espírito: O que você vê em mim, são restos de uma
existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de
bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o
terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última existência física
Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.
O médium: E qual é seu nome?
O espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam
que eu sou o “Caboclo das sete encruzilhadas” pois para mim não existirão
caminhos fechados.
...Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma
mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar,
independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós
aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que
souberem menos e a nenhum viraremos as costas, a nenhum diremos não.
E assim, no dia
16 de novembro de 1908, foi fundada a Ubanda. O centro espírita de Zélio foi
denominado “Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade” e em pouco tempo já havia mais
dez mil casas com a filosofia: “A manifestação do espírito a serviço da
caridade” e tendo como norteador as obras de kardec.
Conrado Dantas
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