domingo, 3 de novembro de 2013

A avacalhação da Academia Brasileira de Letras

A Academia Brasileira de Letras é uma instituição fundada no Rio de Janeiro em 20 de julho de 1897 por Machado de Assis, que objetivava cultivar a língua e a literatura brasileira. É composta por quarenta membros efetivos e perpétuos e por vinte sócios estrangeiros. Para cada uma das quarenta cadeiras, os fundadores escolheram os respectivos patronos, homenageando personalidades que marcaram as letras e a cultura brasileira, antes da fundação da Academia.
A escolha desses patronos deu-se de forma um tanto aleatória, com sugestões sendo feitas pelos próprios “imortais”. Historiando esta escolha, em discurso proferido na casa, no ano de 1923, Afrânio Peixoto (que dela foi presidente), deixou registrado:
“A novidade de nossa Academia foi, em falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos patronos. Machado de Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis dar a José de Alencar a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional. A justiça não guiou a vários dos seus companheiros. Luís Murat, por sentimento exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que infeliz, Adelino Fontoura. O mesmo, Pedro Rabelo a Pardal Mallet. A Silva Ramos, que lembrara Gonçalves Crespo, nascido no Brasil, não o permitiram, por «português», aceitando, entretanto, Gonzaga, que nascera em Portugal…
Faltavam poucos acadêmicos à escolha e sobravam grandes patronos nacionais. Nabuco que, para não sair de Pernambuco, e não ter sombra, escolhera o medíocre Maciel Monteiro, lembrou aos que faltavam, a escolha justa de grandes nomes restantes. Ruy ocorreu logo como seu patrono, que não estava na lista: era Evaristo da Veiga. Ficaram muitas clamorosas exclusões, entretanto.
Recentemente, acadêmico para quem a Academia é número um de suas preocupações, entendeu obviar o defeito, dotando os sócios correspondentes de patronos. Elaborou a lista dos grandes excluídos — Alexandre de Gusmão; Alexandre Rodrigues Ferreira; A. de Morais Silva; Antônio José; Botelho de Oliveira; D. Borges de Barros; Eusébio de Matos; Dom Francisco de Sousa; Fr. Francisco de Monte Alverne; Gonçalves Ledo; José Bonifácio, o Patriarca; Matias Aires, Nuno Marques Pereira, Odorico Mendes, Rocha Pita, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, Sotero dos Reis, Fr. Vicente do Salvador, Visconde de Cairu — e teve a habilidade, eleitoral, de fazê-la aceita.
É exato que a maioria é de baianos, o que trai a origem, mas, agora, já não se dirá que os sessenta patronos não incluem os mais consagráveis dos brasileiros escritores. A exclusão desses vinte seria escandalosa e certamente eles valem mais que vinte dos outros quarenta, escolhidos sem unidade de critério, ou, como deveria ser apenas, critério de justiça”.
Como se pode observar, a avacalhação na ABL já vem desde os seus primórdios. Eu já havia perdido a fé em diversas instituições brasileiras, quando admitiram o obscuro e pretenso poeta maranhense, Zé de Sarney como “imortal”. Muitos me criticaram na época, mas o tempo, senhor de toda razão, veio em meu socorro quando o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça, convidou para um almoço na Casa de Machado de Assis, o jogador Ronaldinho Gaúcho, o técnico Wanderley Luxemburgo e a então presidente do Flamengo Patrícia Amorim, que foram homenageados com a Medalha Machado de Assis, alta condecoração da ABL.
Eu até entenderia se isso fosse apenas uma jogada de marketing, convidando atrações populares para um almoço, chamando a atenção da mídia para a ABL, no momento em que se comemorava o aniversário de um dos seus membros mais ilustres. Mas, daí a honrá-los com uma das mais altas honrarias da Casa, destinada a homenagear e enaltecer a literatura brasileira, tenham dó, não dá pra engolir.
Na oportunidade, Ronaldinho foi perguntado por um repórter sobre qual o último livro lido por ele. Ronaldinho ficou sem jeito, disse que não lembrava, mas que iria pedir conselhos aos imortais presentes. Aí, Vilaça mandou descolar um livro de Zé Lins sobre o Flamengo e deu de presente ao craque. “Assim você pode iniciar a sua vida de leitor, porque terá a necessária motivação”. Pior a emenda.
Neste país governado por analfabetos e ignorantes, onde a Educação está sempre em último plano, e o glamour das “celebridades” teatrais futebolísticas são vistas como exemplos a serem seguidos para se ter “sucesso na vida”, só me resta render minhas humildes homenagens às jovens cabeças pensantes, que fogem das drogas, (não só os alucinógenos, psicotrópicos e outros que tais), como também do brilho efêmero da fama, o elogio gratuito e interesseiro, a preguiça e a malandragem, para investir em conhecimento.
Adquirido o conhecimento, um patrimônio e uma herança que nem o mais hábil ladrão ou o mais interesseiro parente irá lhe tomar, deixam o País em busca de regiões onde educação e conhecimento são mais valorizador do que que aqui.
Já estou velho para tomar este caminho, mas não descarto a possibilidade de, mesmo aposentado, ir morar fora do Brasil, deixando-o para o PT, os Petralhas e seus admiradores.

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