sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A crise no Samu


         Os médicos do Samu escolheram a pior maneira para tratar um assunto com o prefeito José Ronaldo, que foi a chantagem. Uma negociação que se desenrolava internamente, de repente explodiu na imprensa com os médicos colocando o prefeito na parede, na base do “ou dar ou desce”, exigindo a cabeça da coordenadora do Samu, afirmando que se isso não ocorresse pediriam demissão coletiva. Juntaram-se a eles enfermeiros e outros profissionais do setor, alegando que a coordenadora age com arrogância, prepotência e maus tratos para com os seus subordinados.
         Não é o feitio do prefeito ceder a pressões. Por isso, creio que o movimento dos profissionais vai dar em nada. As denúncias contra a coordenadora passam também por acumulo de cargos e ações ilegais na regionalização do Samu. Todas elas foram entregues em documento à Câmara Municipal e ao Ministério Público. O prefeito já disse que não há irregularidades e que as acusações são infundadas. Por tanto, não creio que a interferência da Câmara vá mudar a opinião do alcaide. Resta saber se o Ministério Público acatará ou não as denúncias.
         Em geral, os médicos, salvo raríssimas e honrosas exceções, são péssimos gestores. Também são desarticulados, não conseguindo mobilizar a categoria em torno de um objetivo comum. Todos acham-se cheios de razão e seguem apenas seus próprios conceitos, valores e ideias e estão sempre em confronto com as opiniões de seus colegas. A medicina é hoje um mercado que movimenta bilhões, atraindo todo tipo de mercenário, transformando a saúde numa “mercadoria” caríssima. No Brasil quem não tem dinheiro morre mais rápido. 
         Antigamente as autoridades mais respeitadas e respeitáveis de uma cidade eram o pároco local, o prefeito, o juiz e o delegado. Mas, acima de todos eles estava o médico. Até entre os círculos militares a “patente” de médico era a mais respeitada. Em caso de saúde a palavra do médico prevalecia sobre todas as demais patentes. Mas, isso foi há muito tempo. Com o mercantilismo imperando na saúde, o médico se tornou apenas mais um trabalhador assalariado, um ser frio, que usa mais instrumentos do que seus conhecimentos e humanidade para examinar e diagnosticar seus pacientes, hoje chamados de clientes.
         Quando eu disse aqui certa vez que o Brasil estava trazendo médicos estrangeiros para trabalhar porque os médicos brasileiros não se davam ao respeito, e até os recém formados não queriam deixar os grandes centros para iniciar a carreira e o aprendizado pós universidade em distantes e pequenas comunidades, alguém me escreveu dizendo que eu estava muito confortável na minha sala com ar refrigerado e não conhecia a realidade dos médicos. Mas, eu conheço. E muito bem. E a prova dessas coisas que digo é que nem mesmo as suas entidades representativas como o CREMEB e a ABM têm poder para defende-los. Ninguém os levam a sério.
         Ao ler este artigo, meus caros médicos, em vez de me xingar, tentem resgatar o respeito perdido.

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