terça-feira, 21 de março de 2017

Tem boi na linha



Os crimes cometidos no âmbito da Operação Carne Fraca são graves e merecem punição, pois, coloca em risco o consumidor, entretanto, precisamos entender que mesmo quando uma coisa certa é feita, isto não isenta de erro o modo como ela é feita. Os fins não justificam os meios. E a PF – de modo geral com excelentes trabalhos no currículo- até o momento, não apresentou dados que mereçam o estardalhaço que foi criado, o estrago que foi causado e justificativa para os erros primários que foram cometidos.

Primeiro, é inconcebível que a PF deixe a população exposta a dois anos de consumos de produtos estragados, sem alertar o governo, sem proteger o cidadão; segundo, é inaceitável que, com tanto tempo de investigação, erros primários como engano com o papelão, erro com o ácido ascórbico que, afinal, não era cancerígeno e o uso permitido de certas carnes na fabricação de salsicha, seja dado como ilegal; terceiro, que uma operação mostre nitidamente que não havia especialista no assunto, no processo, e que a comunicação seja tão mal planejada, colocando em risco os aspectos positivos do combate à corrupção.


PF precisava, neste caso, diferente da Lava-Jato, entender a dimensão do processo que executa. Adjetivo de maior operação, para sete prisões, 3 interdições em 4831 frigoríficos, 33 acusações entre 11300 funcionários (o líder do crime, aliás, é uma partilha entre Kátia Abreu, ex da Agricultura e o atual da Justiça, Serraglio) mostra claramente que houve excesso e generalização sem provas, contra todos, utilizando a mídia. De certo modo, seria como condenar toda indústria automobilística quando ocorre um recall. Imaginar que toda carne consumida no Brasil, ou exportada, que passa pelos critérios europeus de certificação está contaminada é inocência ou falta de uma análise mais detalhada.

Evidente que isto não valida o discurso que os criminosos devem ficar impunes porque a ação prejudica o agronegócio. Ao contrário, estes devem ser exemplarmente e rapidamente punidos para que o setor não seja mais prejudicado do que já está sendo com a repercussão dos fatos. É preciso, também, que o governo reveja sua estrutura de fiscalização, que os próprios frigoríficos implantem medidas de melhor controle em suas unidades associadas, pois, é evidente, também, que esta era uma terra de ninguém, sujeita a práticas de corrupção e que não pode ficar sem atenção especial.

Não partilho de teorias conspiratórias do capital internacional e similares- reconheço, no entanto, que foi a sopa no mel- embora ache que dois anos foi uma espera excessiva, entretanto, não deixo de reconhecer uma certa estranheza na sua liberação no exato momento que o novo Ministro da Justiça, Serraglio, chega ao poder. A verdade é que, a partir de agora, o Ministro virou refém- um pato manco, em verdade, se conseguir sobreviver, o que não creio - no comando da Justiça, que inclui a PF. E isto não é bom.

É certo que JBS (Friboi, Seara) e BRF (Sadia, Perdigão), monopólios construídos sob o olhar complacente do CADE e as verbas generosas do BNDES devem ser investigados com todo rigor, de forma ágil, firme e resolutiva. Neste caso, quanto mais lentas forem as apurações, ou quantas mais forem parciais as revelações, mais dramático será o impacto no setor que não pode ser penalizado de forma universal. É preciso cuidado, porque pode haver outros bois na linha.



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