terça-feira, 23 de outubro de 2018

A democracia nunca mais será a mesma


César Oliveira

Há algo que está muito claro, como já dissemos, e que precisará ser estudado: a mudança na democracia com essa eleição, pois, ela nunca mais será a mesma. E não estou falando de Bolsonaro, per si, mas como Bolsonaro se elegeu (ao que indicam as pesquisas).
A revolução digital e expansão da comunicação deu voz a todo cidadão fazendo com que ele fosse um ativista político, sem que sua voz aparecesse via um mediador (mídia impressa, marqueteiros, rádios, intelectuais) que dominavam os meios de transmissão e a filtravam ao seu modo, desejos e interesses. As redes sociais explodiram esse modelo de campanha e de formação do "líder político", que era construído para ser então apresentado aos eleitores.
Sob certo modo, é como Àgora grega, berço da democracia, em que todos podiam falar. Isso acontece para o bem e para o mal. Como é terra de ninguém - um Oeste ainda sem lei- ela permite que aloprados de todas as matizes verbalizem sua selvageria, rasura, e agressões, protegidos pelo anonimato virtual, ou não. Umberto Eco, um tanto preconceituosamente, um tanto acertadamente, disse que a internet deu voz aos idiotas. Toda generalização, como sabemos, é uma idiotice.
A verdade é que a revolução que estamos vivendo ainda não tem meios e resultados definidos, como toda e instável revolução, por isso, para usar uma frase de autoajuda, o caminho se fará a medida que for sendo andado. Aqui, temos o agravante que o avanço tecnológico não deixa pedra sobre pedra do dia anterior e sua expansão é inevitável e irreversível, assim, quando pensamos ter dominado um aspecto, ele é mudado por uma novidade ainda mais moderna.
A retirada de mediadores, se tem o benefício da ampliação da voz direta da população - um ideal democrático-, traz solavancos a essa democracia, pois, há demandas muito maiores, virais, às vezes, que colocam uma pressão muito maior sobre as instituições que devem mediar esses conflitos - elas mesmo, como nosso STF e MP, expostos duramente-, fazendo com que elas se fragilizem - o que é ruim-, mas se depurem - o que é bom-, ao serem exibidas de forma transparente. O perigo é perder a medida, pois, é dessa força  que dependemos cada vez mais para garantir a democracia no seu sentido mais amplo, diante de líderes populistas e autoritários.
Temos um universo absolutamente novo à frente, sem mapa pronto. Cabe a nós a sabedoria de o fazermos para garantirmos o bem mais essencial da humanidade: a liberdade.

PS: quando eu disse que a eleição de Bolsonaro precisava ser estudada, uns idiotas (aqueles de Eco), não entenderam e saíram dizendo que eu disse que Bolsonaro "merecia" ser estudado. Eu estou discutindo sistema, antilulismo, modelo eleitoral, fenômeno político, comunicação, massa, e eles centrados em indivíduo. Haja paciência.

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