A Embrapa Agrobiologia, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária sediada no Rio de Janeiro, desenvolveu um fertilizante
orgânico a partir da biomassa aérea de espécies leguminosas, o N-verde. O
processo aproveita a parte da planta que fica fora da terra.
Na primeira fase da pesquisa, iniciada em 2008, foram selecionadas as
matérias-primas que poderiam ser usadas e que tivessem volume de
nitrogênio próximo de 4%. O projeto foi retomado no ano passado, para
desenvolvimento do trabalho de obtenção da biomassa e de seu
processamento até chegar ao produto final, que é o fertilizante
peletizado ou granulado.
Em entrevista à Agência Brasil, o engenheiro
agrônomo Ednaldo Araújo, líder do projeto na Embrapa Agrobiologia, disse
que um dos objetivos é aumentar a oferta desse tipo de fertilizante,
que está de acordo com a legislação de agricultura orgânica. A
legislação não permite o uso de fonte sintética, esclareceu Araújo,
ressaltando que o grande gargalo é ter fontes orgânicas renováveis para
serem usadas na agricultura orgânica.
Atualmente, utiliza-se a como fertilizante a torta de mamona, que é
feita com o óleo extraído dessa planta, mas não existe uma linha de
produção da torta. “Para a expansão da agricultura orgânica, é preciso
ter mais fontes que, somadas à torta de mamona, permitam a oferta de um
fertilizante nitrogenado a preço acessível”, disse.
Processo natural
Daí surgiu a ideia de potencializar um processo natural, que é a
fixação biológica de nitrogênio, de modo a colocar no mercado um produto
rico nesse elemento, com alta disponibilidade, fácil de ser usado por
plantadeiras e adubadeiras e com concentração alta o suficiente para
compensar o custo com transporte, acrescentou Araújo.
Já foram feitos os testes de campo para verificação da eficiência do
fertilizante. O projeto terá continuidade até o fim do ano que vem,
quando será iniciada a fase de interação com possíveis empresários
interessados na produção desse fertilizante.
Vantagens
Segundo Ednaldo Araújo, o N-verde é um fertilizante em que o
nitrogênio é obtido em um um processo natural de fixação biológica. Por
ser peletizado, reduz a biomassa e aumenta sua densidade, além de
conseguir padronizar a matéria-prima. “Isso dá garantia de eficiência ao
produto. Um produto que é padronizado, com eficiência comprovada e com o
nitrogênio vindo de uma fonte renovável”, enfatizou.
O pesquisador disse que o fertilizante orgânico não vem para
substituir nenhum produto, e sim para somar ao que já existe. Ele
destacou a falta de uma fonte nitrogenada para sistemas orgânicos e
agroecológicos atualmente no país. A expectativa de Araújo é que a
relação custo/benefício para os agricultores orgânicos seja menor.
“Porque vai haver maior eficiência, com uma oferta que vai depender da
capacidade da demanda.”
No caso da torta de mamona, a oferta depende do resíduo que é gerado e
acumulado nas empresas que extraem o óleo da planta. Quanto ao N-verde,
o pesquisador disse acreditar que a oferta vai acompanhar a demanda. O
objetivo do projeto é buscar um produto mais barato ou similar à torta
de mamona e incentivar a expansão da agricultura orgânica.
Apesar da maior quantidade de nitrogênio (5%), a torta de mamona
acaba tendo grandes perdas quando é aplicada no campo – em torno de até
50%. O N-verde, porém, é mais eficiente, com perdas de, no máximo, 15%.
“Vai ter um efeito residual maior”, explicou o pesquisador. Isso
significa que o fertilizante orgânico pode ser aproveitado em culturas
sucessivas.
Gliricídia
O estudo é desenvolvido inicialmente nas espécies de leguminosas
perenes, mas pode também usar espécies anuais. “O foco é nas [espécies]
perenes porque, uma vez que se consegue montar a infraestrutura de
coleta de biomassa, não são necessários novos plantios. Nesse caso,
entre todas as espécies, a que mais se adaptou a essa forma de manejo
foi a gliricídia [Gliricidia sepium]”.
A coleta deverá ser mecanizada, de acordo com o plano de manejo que está sendo fechado pelos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia. Mais adiante, outras espécies de leguminosas poderão entrar também na linha de produção, admitiu Araújo.
A coleta deverá ser mecanizada, de acordo com o plano de manejo que está sendo fechado pelos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia. Mais adiante, outras espécies de leguminosas poderão entrar também na linha de produção, admitiu Araújo.
O N-verde pode ser usado em todo tipo de lavoura, mas o projeto tem
foco nas hortaliças folhosas. Há potencial grande para aplicação também
em plantas ornamentais, porque não fermenta, nem produz odor
desagradável, disse Araújo. O pesquisador ressaltou que o N-verde
adapta-se bem na agricultura urbana, no paisagismo e em hortaliças,
porque tem maior valor agregado.
“O custo dele vai ser compensado para cultura de alto retorno”. De fácil aplicação e rico em nitrogênio, o N-verde tem os nutrientes essenciais para as plantas, como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre, além de micronutrientes, entre os quais o boro, ferro, manganês, molibdênio e zinco.
“O custo dele vai ser compensado para cultura de alto retorno”. De fácil aplicação e rico em nitrogênio, o N-verde tem os nutrientes essenciais para as plantas, como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre, além de micronutrientes, entre os quais o boro, ferro, manganês, molibdênio e zinco.
Estudos mostraram que, com 1 hectare de gliricídia, é possível
produzir até 6 toneladas de N-verde por ano. Essa quantidade pode variar
de acordo com o espaçamento em que for feito o plantio.
Edição: Nádia Franco
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