quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Os inimigos da liberdade estão sempre de prontidão


Cesar Oliveira
No longo caminho da civilização a liberdade individual, o estado de direito, a democracia, o direito a propriedade, o voto livre, foram conquistas que se tornaram o grande legado de nossa trajetória. Não foi construído sem sacrifício e vidas, retiradas por tiranias que ameaçaram essas conquistas, de forma sorrateira, às vezes, ou de forma, bruta, em outras. A liberdade, com seu poder de mobilização extraordinário, desencadeadora de todos os avanços e conquistas que o espírito e a inteligência humana conceberam, é, de todas, a mais cativa das ambições humanas. Não suportamos a opressão que uniformiza e retira do cidadão sua individualidade, potencial criativo e supremo direito de escolha, em nome do Estado, partido, fé, ou capital.
Sartre dizia que a liberdade era absoluta ou não existia, e que estamos condenados a sermos livres. Esse é nosso destino, mas não creio que exista forma absoluta, afinal, estamos sempre delineados pelas memórias, afetos, experiências, fé, ou falta dela, portanto, toda escolha condicionada é um limite a essa liberdade. A grande busca é aproximar a liberdade vivida da liberdade desejada, ou que aceitamos como suficiente. Nós somos o limiar de nossas concessões.

É mais fácil entender a liberdade em outro sentido. Hobbes afirmou que a liberdade natural, ilimitada, foi trocada pela liberdade civil, ao criarmos o Estado sob forma contratualista e esse passar a determinar os limites dessa liberdade. Locke rebateu afirmando: “Cedendo seus direitos ao Estado, os homens quiseram instituir um órgão que lhes garantisse a paz, a prosperidade e a justiça. Se o Estado se desvia de sua finalidade, se falha em relação aos seus objetivos deve ser dissolvido para que outro se organize”.
Nos dias atuais, em que a primeira geração desse terceiro milênio chega à maioridade, a liberdade parece um bem imperecível, depois que o Ocidente livre prevaleceu sobre o Nazismo e a Cortina de Ferro, do Comunismo, mas a verdade é que o exercício dessa liberdade civil está sempre sob ameaça. Não são poucos os que desejam o Estado Leviatã, regulador ao extremo, em que nada existe fora do Estado. Ele serve aos instintos mais primitivos de dominação, do homem.
A situação atual é mais grave porque as ameaças deixaram de se mostrar com armas em punho, e passaram a ocupar sutilmente o discurso, as idéias, os corações, infiltrando-se lentamente na Sociedade para diluir valores conservadores, referenciais históricos e institucionais, estruturas familiares, com objetivo de fortalecer o estado tutor, paternalista, regulador onipotente.
Além dos partidos que ocupam as mentes e corações das universidades, da mídia e dos formadores de opinião, passamos a ter grupos de pressão, que se utilizam de diversos discursos para estabelecer limites de ação ao outro e detentores dos meios eletrônicos de comunicação que usam sem pudor todas as possibilidades dessa dominante forma de rede social.
Aos poucos, estamos sendo encarcerados, dominados em nossa linguagem- o princípio de toda dominação é a dominação da palavra-, e o que é assustador, muitas vezes com a concordância do dominado que acreditar estar sob princípios razoáveis, e cede ao novo contratante. Como bem disse Manon Roland, antes de ser guilhotinada: Ó Liberdade, quantos crimes cometem-se em teu nome.
Os inimigos da liberdade estão sempre de prontidão, ávidos para dilapidarem a condição essencial de nossa existência, o que exige do indivíduo uma permanente capacidade de identificar e reagir, para manter-se livre: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!"

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