segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Mulher brasileira é vítima de seu próprio machismo, diz historiadora

Mary Del Priore é historiadora, professora universitária e autora de obras como História das Mulheres no Brasil (ed. Contexto), vencedor dos prêmios Jabuti e Casa Grande e Senzala, e Histórias e Conversas de Mulher (ed. Planeta), em que acompanha avanços femininos desde o século 18.
Em entrevista a BBC Brasil  a historiadora diz que as mulheres brasileiras do último século conquistaram o direito de votar, tomar anticoncepcionais, usar biquíni e a independência profissional. Mas ainda hoje são vítimas de seu próprio machismo.
Muitas mulheres "não conseguem se ver fora da órbita do homem" e são dependentes da aprovação e do desejo masculino, opina ela.

BBC Brasil - Você vê traços de machismo ou preconceito em seus ambientes profissional e pessoal?

Mary Del Priore - No ambiente profissional, não vivi nenhum problema, porque desde os anos 1980 o setor acadêmico sofreu grande "feminilização". As mulheres formam um bloco consistente nas disciplinas (universitárias) mais diversas.
"O fato de que elas busquem se realizar resgatando o trabalho doméstico, manual ou artesanal é uma prova de que a singularidade feminina tem muito a oferecer. A mulher pode, sim, realizar-se através do trabalho doméstico e não necessariamente no público"
Mas, na sociedade, acho que o machismo no Brasil se deve muito às mulheres. São elas as transmissoras dos piores preconceitos. Na vida pública, elas têm um comportamento liberal, competitivo e aparentemente tolerante. Mas em casa, na vida privada, muitas não gostam que o marido lave a louça; se o filho leva um fora da namorada, a culpa é da menina; e ela própria gosta de ser chamada de tudo o que é comestível, como gostosa e docinho, compra revistas femininas que prometem emagrecimento rápido e formas de conquistar todos os homens do quarteirão.
O que mais vemos, sobretudo nas classes menos educadas, é o machismo das nossas mulheres.

BBC Brasil - Mas muitas até querem que os maridos ajudem em casa, mas será que essas coisas do dia a dia acabam virando motivos de brigas justamente por conta do machismo arraigado? E também há mulheres estudadas, ambiciosas e fortes - mas também vaidosas, que ao mesmo tempo querem se sentir desejadas por um parceiro/a que as respeite. Isso é uma conquista delas, não?

Del Priore - Ambas as questões não podem ter respostas generalizantes. Mais e mais, há maridos interessados na gerência da vida privada e na educação dos filhos. Quantos homens não vemos empurrando carrinhos de bebê, fazendo cursos de preparação de parto junto com a futura mamãe ou no supermercado? Tudo depende do nível educacional de ambos os parceiros. Quanto mais informação e mais educação, mais transparente e igualitária é a relação.
Quanto às mulheres emancipadas, penso que preferem estar sós do que mal acompanhadas. Chega de querer "ter um homem só para chamar de seu". Elas estão mais seletivas e não desejam um parceiro que queira substituir a mãe por uma esposa.

Leia entrevista completa no BBC Brasil

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