segunda-feira, 21 de julho de 2014

Quer perder dinheiro? Pergunte-me como

Elas são as fênix do mundo das finanças: parecem mortas, mas sempre renascem com uma nova roupagem, dando dinheiro fácil e virando febre. Entenda como as pirâmides enriquecem meia dúzia e quebram multidões 

Você abre um negócio: a Quéops Empreendimentos. E vai atrás de sócios. Arranja cinco. Cada um pagou R$ 10 mil para estar na jogada com você. Mas não é o bastante. Então você pede para que cada um deles arranje mais cinco sócios cada. "Quem conseguir vai ter o nome gravado aqui, nesta placa de marfim. Para sempre", você diz. E os caras, motivados pelas suas palavras inspiradoras, conseguem mesmo. Você termina com 25 sócios novos. Então paga R$ 10 mil para cada um dos cinco sócios-fundadores. Todo mundo fica contente: cada um deles embolsa um retorno total do investimento logo de cara. E você, o chefe da coisa toda, acaba com R$ 200 mil para investir na Quéops.

Mas espera um pouco. Se deu para levantar R$ 200 mil tão rápido, por que não fazer outra rodada de recrutamento de sócios? Aí você dá uma palestra para aqueles 25 que acabaram de entrar e pede para que eles chamem mais cinco sujeitos cada um: "E quem conseguir vai ganhar uma cadeira vitalícia no conselho diretor!". Como você é um gênio da motivação, dá certo de novo. Só que agora a escala é outra, de gente grande: a operação rende R$ 1.250.000.

Você, que além de gênio é generoso, distribui R$ 300 mil de bônus para a sua diretoria toda, que agora tem 30 pessoas (os cinco primeiros e os 25 que vieram depois). Cada um leva R$ 10 mil. Os 25 sócios mais recentes acham lindo: mal entraram para a Quéops e já conseguiram retorno. Mas bom mesmo fica para aqueles cinco originais. Eles levantam mais R$ 10 mil cada um, dobrando o investimento inicial. E dessa vez sem fazer nada. Poderiam ter ficado em casa assistindo Video Show que teriam ganhado 100% de retorno do mesmo jeito. Uau.

Mas bom mesmo está para você. Sobrou quase R$ 1 milhão na sua mão. Um empresário comum pegaria esse dinheiro e investiria em equipamentos e funcionários. Mas você não é um empresário comum. É um gênio. Descobriu que isso de "equipamentos e funcionários" é coisa para losers: o que dá dinheiro mesmo é conseguir mais sócios. A maior prova de que isso não tem erro? Seus próprios sócios! Eles mesmos estão ganhando mais do que conseguiriam em qualquer outro tipo de investimento. E o melhor: conforme a notícia do dinheiro fácil se espalha por aí, fica cada vez mais fácil amealhar gente. Ser sócio da Quéops vira uma ambição coletiva. As pessoas começam a pedir dinheiro emprestado só para poder entrar nessa.

Fica tão fácil que a sua "terceira geração" de sócios, os 125 sujeitos que aqueles 25 tinham trazido, acabam puxando cinco sócios novos cada um sem fazer força. Resultado: um faturamento bruto de R$ 6,25 milhões. A essa altura, a diretoria já conta com 155 pessoas (os cinco primeiros, os 25 da segunda geração e os 125 da terceira). Pagando os R$ 10 mil de bônus para cada um, você gasta R$ 1,55 milhão. Uma bela grana, mas ainda sobram R$ 4,7 milhões e uns quebrados para você. Limpos. E só com os quebrados já dá para comprar um Porsche. Tudo sem que a Quéops tenha saído do papel, ou mesmo vendido qualquer produto. O grande lance dela, no fim das contas, é arrumar cada vez mais sócios pagantes. Em pouco tempo, os sócios do topo da pirâmide ficam milionários. E você, o criador, bilionário - e idolatrado pelas multidões que estão triplicando, quadruplicando o dinheiro delas com você.

Bom, o que você leu até agora é o que os economistas chamam de "modelo", uma aproximação simplificada da realidade. Uma aproximação para explicar como funciona um esquema de pirâmide financeira. O irônico é que, apesar de isso ser um modelo, ele é modesto em comparação com o que acontece na vida real. É o que vamos ver agora.

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