Se toda a riqueza produzida pelo
Brasil fosse dividida pelo total de habitantes do país em 1990, cada
brasileiro levaria para casa R$ 3.999. Vinte anos depois, em 2010, a
divisão desse bolo – conhecido pelos economistas como o PIB per capita -
seria de R$ 5.604, uma alta de 40%.
No entanto, segundo um novo
indicador divulgado nesta quarta-feira, a economia brasileira teria
crescido na verdade apenas uma fração disso: 2% em duas décadas.
A
explicação: se por um lado, mais bens e serviços foram produzidos, por
outro, mais recursos renováveis e não renováveis também foram gastos
para alimentar esse crescimento. Além disso, por causa de flutuações de
mercado, parte dessas matérias-primas também perdeu valor ao longo do
tempo.
Ou seja, conclui o relatório, o Brasil ficou mais rico, mas a um ritmo inferior do que supõe a métrica tradicional.
Em sua segunda edição, o Índice de Riqueza Inclusiva (ou IRW, de Inclusive Wealth Index)
mediu o desempenho econômico de 140 países entre 1990 e 2010 de forma a
refletir a evolução do desenvolvimento sustentável nesse período.
Publicado
a cada dois anos desde 2012, o levantamento não se restringe a analisar
o quanto aumentou o PIB per capita no período - calcula o impacto na
economia das mudanças em capital humano (mão de obra), capital natural
(recursos naturais) e capital produzido (produção de bens e serviços) de
cada país.
De forma geral, segundo aponta o relatório, os países
apresentaram um crescimento bem mais expressivo quando analisado apenas
seu desempenho econômico pelos critérios de PIB per capita. Entre 1990 e
2010, esse indicador registrou alta de 50%.
No entanto, quando as
mudanças no capital humano, natural e produzido são consideradas, a
economia mundial cresceu muito menos: apenas 6%.
De
acordo com a pesquisa, o baixo nível de crescimento do capital humano
(em termos de educação, aptidão e habilidades), combinado com vastas
perdas no capital natural (terras agrícolas, florestas, reservas fósseis
e minerais), explicam o mau desempenho do crescimento da economia
global apesar dos enormes ganhos no capital produzido.
"O
relatório desafia a perspectiva limitadora do PIB. E também destaca a
necessidade de integrar a sustentabilidade na evolução econômica e no
planejamento de políticas públicas", afirmou Partha Dasgupta, professor
emérito de Economia da Universidade de Cambridge e um dos responsáveis
pelo estudo.
"Olhar além do PIB e adotar um Índice de Riqueza
Inclusiva internacionalmente é fundamental para que a agenda de
desenvolvimento sustentável pós-2015 se adeque aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da ONU", acrescentou Dasgupta.
Perda de recursos
O
Brasil não foi exceção entre os países que apresentaram desequilíbrios
entre os critérios convencionais de medição do crescimento da economia e
a alternativa proposta pelo IWI.
Entre 1990 e 2010, os economias
per capita de Estados Unidos, Índia e China, por exemplo, cresceram
respectivamente 33%, 155% e 523%. Já quando o desenvolvimento
sustentável é analisado, a riqueza inclusiva desses países teria
crescido 13%, 16% e 47% em duas décadas.
Outros países inclusive
tiveram desempenho negativo quando avaliada a variação do IWI, como o
Equador, onde o PIB per capita aumentou 37% e a riqueza inclusiva caiu
17%. A economia do Catar quase dobrou de tamanho (alta de 85%) segundo a
medição tradicional, mas o IWI apresentou queda de 53%.
De acordo com o relatório, o
crescimento populacional e a depreciação do capital natural são os dois
principais fatores por trás da queda da geração de riqueza sustentável
per capita na maioria dos países analisados.
O estudo acrescenta
que a população aumentou em 127 dos 140 países analisados, enquanto o
capital natural registrou trajetória inversa, caindo também em 127 das
140 nações avaliadas.
"Embora ambos os fatores tenham influenciado
negativamente o crescimento da riqueza, as mudanças populacionais foram
responsáveis pelas maiores reduções", destaca a pesquisa.
Fonte finita
No
caso do capital natural, a situação do Brasil é curiosa. Apesar de ter a
segunda maior cobertura florestal do mundo, com 56% do território
dominado por florestas, o país foi um dos que mais perdeu capital
florestal nos últimos anos, ao lado de Nigéria, Indonésia, Mianmar e
Zimbábue, e acabou ultrapassado pela China.
O país asiático, por
sua vez, lidera o ranking global, mas só tem 18% de seu território
coberto por florestas, segundo o estudo, devido às diferenças de preço
da madeira. A China tem mais áreas onde a matéria-prima pode ser
extraída e vendida legalmente.
Além disso, acrescenta o relatório,
o Brasil perdeu capital florestal entre 1990 e 2000 devido ao
desmatamento e só começou a recuperá-lo na última década, quando medidas
para conter a derrubada de árvores, como leis mais duras, foram tomadas
pelo governo.
Por outro lado, o país ganhou capital natural ao aumentar o número de terras destinadas à agricultura.
O
estudo alerta, no entanto, sobre o consumo desenfreado das
matérias-primas que alimentou o crescimento econômico na década
anterior, medido pelos critérios convencionais.
"Por mais de meio
século, avaliamos o progresso das nações com base em quanto é produzido,
consumido e investido; nós o medimos em dólares americanos e agregamos
os dados em uma métrica fácil de ser comparada: o Produto Interno Bruto
(PIB)", afirmou Anantha Duraiappah, diretor da Unesco / Instituto
Mahatma Gandhi de Educação para Paz e Desenvolvimento Sustentável.
"A
suposição implícita, no entanto, de que a fonte da qual depende esse
crescimento é infinita claramente não é verdadeira. Menos de 50% dos 140
países analisados estão uma trajetória sustentável; mais da metade
deles está consumindo além do que podem", acrescentou ele.
BBCBrasil
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